sábado, 22 de dezembro de 2012

Quem me dera, eu mesmo poder mas, a minha vocação é crer!


Quem me dera, eu mesmo poder dizer que "o zelo pela Tua casa me consome" Salmos 69:9, João 2:17

Todavia, "Tu bem sabes como eu fui (,sou e tenho sido) insensato, ó Deus; a minha culpa não te é encoberta." Salmos 69:5

Quem me dera eu poder dizer de mim mesmo que "Não se aparta da minha boca o livro da Tua lei."' Josué 1:8, e ainda mais, que "antes eu medito nela dia e noite" Josué 1:8

Todavia, "Ai de mim! Estou perdido! Pois sou um homem de lábios impuros e vivo no meio de um povo de lábios impuros;" Isaías 6:5

Quem me dera, eu mesmo "ter cuidado de fazer conforme a tudo quanto nela está escrito; porque então eu faria prosperar o meu caminho, e eu seria bem sucedido." Josué 1:8

Todavia, eu sou contado entre "todos (aqueles que) pecaram e destituídos estão da glória de Deus;" Romanos 3:23

Quem me dera, que eu "já não pudesse mais morrer; por ser igual aos anjos, e ser filho de Deus, sendo filho da ressurreição." Lucas 20:36

Todavia, "assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, eu como, eu bebo, eu me caso e me dou em casamento," Mateus 24:38

Quem me dera eu "poder morar na casa do SENHOR todos os dias da minha vida, para contemplar a formosura do SENHOR, e inquirir no seu templo." Salmos 27:4

Todavia, teu Filho (Jesus) "não pediu que eu fosse tirado do mundo, mas que eu fosse liberto do mal." João 17:15 e me exortou, dizendo: "Vós sois o sal da terra;" Mateus 5:13 e, "Vós sois a luz do mundo;" Mateus 5:14

Não obstante, "Grande é a minha aflição e a minha dor! Proteja-me, ó Deus, a tua salvação!" Salmos 69:29

Entretanto, quem me dera que "Não se decepcionem por minha causa aqueles que esperam em ti, ó Senhor Jeová! Não se frustrem por minha causa os que te buscam, ó Deus de Israel!" Salmos 69:6

Assim, eu "Creio que hei de ver a bondade do Senhor na terra dos viventes." Salmos 27:13

Pois, "Muitas são as aflições do justo, mas o SENHOR o livra de todas." Salmos 34:19
"Espera tu pelo Senhor; anima-te, e fortalece o teu coração; espera, pois, pelo Senhor." Salmos 27:14

"Esforça-te, e tem bom ânimo "Josué 1:6, "Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa." Atos 16:31, pois,  quanto a viver no mundo, "Já te foi dito, ó homem, o que convém, o que o Senhor reclama de ti: que pratiques a justiça, que ames a bondade, e que andes com humildade diante do teu Deus." Miqueias 6:8

"Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo." João 16:33

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Steve Jobs e o "Assalto" ao Xerox PARC


"Uma coisa é estar convencido de algo e tentar repassar a certeza para os demais. Outra, bem diferente, é querer que as coisas mudem e usar os outros para tentar obter esse resultado." (Celso Ming em Faltou Convencer).

Apesar do meu quase completo antagonismo, de maneira geral, com relação aos pensamentos do autor das frases acima, elas aqui me cabem muito bem, até mesmo porque a ideia é, deliberadamente, pervertê-las.

A primeira coisa, era o que tentava fazer John Sculley na Pepsi-Cola, antes que Steve Jobs, no uso dos seus permanentes atributos da segunda coisa, viesse lhe provocar com a emblemática indagação: "Do you want to sell sugar water for the rest of your life, or do you want to come with me and change the world?"

No entanto, foi exatamente aquilo, a primeira coisa, que Sculley continuou fazendo, mesmo depois de ter sido aportado para ser o CEO da Apple Co., enquanto apenas Jobs, indiferente aos percalços e adversidades que o próprio Sculley, e outros. lhe impunham, tratava de seguir transformando o mundo. 

Nem vale a pena parar para lamentar tais fatalidades pois, a natureza humana é, inexoravelmente, assim mesmo! Existem características intrínsecas que separam, para sempre, tipos de intelectos, definidos em suas formas de ideologias e de ações. Todavia, se você é alguém que costuma pensar pela segunda coisa, que isso jamais te impeça de sonhar e de agir.

Think different, don't worry and be happy forever!

Apenas mais uma homenagem póstuma a Steven Paul Jobs (São Francisco, Califórnia, 24 de fevereiro de 1955 — Palo Alto, Califórnia, 5 de outubro de 2011).

Hummmmm ... não tenha dúvidas quanto a mim e quanto ao "o que eu acredito":

Eu acredito que, sem Mike Markkula, Steve Jobs ainda seria o mesmo genial Steve Jobs e, sem Arthur Rock e seu dinheiro, a Apple ainda assim, teria se tornado na Apple. Mesmo que as coisas acontecessem de forma mais lenta, creio que nem perda de Timing haveria, até mesmo por que, para quem é detentor do poder criativo, timing é algo sempre recorrente.

1978 era bem cedo para Steve Jobs ter se rendido, sem antes persistir em tentar tocar a Apple de uma outra forma, que garantisse a manutenção da sua independência criativa mas, a realidade é que, ele estava muito impaciente, ansioso para fazer o seu negócio decolar e, quanto aos modus operandi das entradas de investimentos provenientes do capitalismo e risco, ele era totalmente ingênuo, ignorante mesmo.

Jobs e Sculley
A história contada pelo lado oficial, dão conta de que Mike Markkula seria um "Angel Investor", todavia, não obstante, o que ele fez foi gerir uma combinação de dinheiro seu próprio com dinheiro dos outros Capitalistas de Risco, como Arthur Rock, agrupados em  um pacote de gestão profissional. Foram US$ 250.000 (80.000 dólares como um investimento no capital da empresa e 170.000 dólares como um empréstimo).

Em 1985 Markkula estimulou John Sculley em uma disputa com Jobs, causando, por fim, o último a deixar a empresa. Se Steve Jobs não tivesse que enfrentar as oposições traiçoeiras de Sculley, talvez ele não tivesse desenvolvido a resiliência que o deixou tão altamente criativo. Mas ser movido à criatividade com sentimentos internos de superação vingativos é uma armadilha, um câncer espiritual, que acaba por causa a morte emocional e, por fim, do corpo físico!

Em 1993, John Sculley recebeu a sua (merecida) recompensa das mãos de Markkula que, então, ajudou a forçar Sculley para fora da Apple. No entanto, no início, além de fornecer uma "supervisão adulta" para os mais jovens, isto é, para Jobs e seu chara e parceiro de engenharia, Steve Wozniak 1, como um também engenheiro treinado, Markkula possuía habilidades técnicas.

Ele escreveu, pessoalmente, alguns dos programas originais de Apple II, serviu como testador beta para os hardwares e softwares da Apple. Wozniak projetou o sistema de unidade de disco, disquete  Disk II, após Markkula descobrir que um programa de balanço de talão de cheques que ele tinha escrito carregava muito lentamente a partir de uma fita de dados.

Já de volta a Apple, com a qual, mesmo estando fora, Steve Jobs nunca conseguiu deixar de ficar preocupado, em 1996, em se livrar dos "palhaços" que trabalhavam na Apple depois que ele vendeu a NeXT para a Apple, ele teria dito:

"Eu queria ter certeza que as pessoas realmente boas que vieram da NeXT, não seriam esfaqueadas pelas costas, por pessoas menos competentes que estavam em cargos seniores da Apple."

O "Assalto" ao Xerox PARC:


A expressão "Xerox PARC" refere-se ao Centro de Pesquisas de Palo Alto (Palo Alto Research Center), da empresa Xerox Co..

O PARC foi uma importante divisão de pesquisa da Xerox Corporation baseada em Palo Alto, Califórnia, nos EUA, fundado em 1970, que transformou-se em uma companhia autônoma em 2002.

Ele é famoso por ter sido o berço de invenções como a interface gráfica dos computadores pessoais (GUI), comprada pela Apple Computer e popularizada com o Macintosh e, posteriormente por outros sistemas operacionais, incluindo o tardio S.O. Windows, da Microsoft.

A palavra "comprada" que eu negritei acima, e a sua frase de contexto, foram extraídas da Wikipédia e, colocadas assim, em desagravo ao forte titulo desa postagem. Mas, afinal de contas, o que foi o "Assalto" ao Xerox PARC e o que steve Jobs teve a ver com aquilo.

"Dentro de uma visão de senso prático, inovação é você tomar uma tecnologia descoberta antes, melhorá-la e convencer as pessoas a comprá-la. É assim que a inovação funciona." filosofia Geek.

A partir de meados de 1976, Steve Jobs e Steve Wozniak oficializam a sua parceia e Wozniak começou a projetar aquilo que seria uma das primeiras linhas de sucesso comercial de computadores pessoais, a Apple série II. Jobs e Wozniak planejavam um computador com "excelente invólucro, teclado incorporado, totalmente integrado, desda fonte de alimentação, passando pelo software, até ao monitor."

O projeto foi viabilizado graças a Mike Markkula que ofereceu lhes uma linha de crédito de um total de 250 mil dólares em troca de uma participação acionária. Em 3 de abril de 1977 a nova empresa — Apple Computer Co. — foi oficialmente criada e comprou a antiga sociedade que havia sido formada por Jobs e Wozniak nove meses antes.

A fonte de alimentação do Apple II foi outra grande evolução. Jobs queria evitar a necessidade de um ventilador e encomendou a construção de um novo tipo de fonte ao engenheiro Rod Holt, da Atari. Holt construiu uma fonte chaveada que possibilitava uma eficiência energética bastante superior em relação as tradicionais fontes de energia lineares usadas até então, e que consequentemente liberava bem menos calor.

Apple II
Para o design, Jobs queria um trabalho que se destacasse diante dos computadores em suas caixas cinza metálico. Ele queria invólucro elegante, feito de plástico moldado leve. O trabalho foi encomendado originalmente a Ron Wayne, mas coube ao consultor Jerry Manock produzir a versão final.

O Apple II foi lançado oficialmente em abril de 1977 durante a primeira Feira de Computadores da Costa Oeste em San Francisco. A Apple recebeu trezentas encomendas durante a exposição, e Jobs conheceu um fabricante de tecidos japonês, Mizushima Satoshi, que se tornou o primeiro revendedor da Apple no Japão.

O sucesso de vendas do Apple II foi tão grande (acabou vendendo quase 6 milhões de unidades em 16 anos) que fez da Apple, em curto espaço de tempo, uma das mais cobiçadas empresas de tecnologia do país. Já no inicio de 1979 todos no Vale do Silício desejavam um pedaço dela e as muitas propostas eram feitas sucessivamente. 

Então num dado instante Jobs, ainda aos 24 anos de idade, pensou que seria interessante permitir que a Xerox comprasse 100 mil ações de ao preço de dez dólares cada. 

Nesta transação, coube aos engenheiros da Apple Jef Raskin e Bill Atkinson convencer Jobs da importância de conhecer as inovações criadas no centro de pesquisas da Xerox e, assim, Jobs aproveitou e negociou duas visitas mediante a venda das ações.

Mike Scott, Jef Raskin,, Steve Jobs, Chris Espinosa e Wozniak
A visita de Steve Jobs juntamente com alguns engenheiros da Apple ao Palo Alto Research Center, mais conhecido como Xerox PARC, durante o verão de 1979, está entre os momentos mais folclóricos da indústria da computação.

As exibições da funcionalidade do Xerox Alto impressionaram a equipe de engenheiros da Apple e agitação instantânea na mente de Jobs. Dirigir um computador convencional, naqueles dias, significava a digitação em um comando por meio do teclado.

Com Jobs parado, de pé, diante de um Xerox Alto, o computador pessoal do PARC, o engenheiro da Xerox chamado Larry Tesler realizava a apresentação que, posteriormente foi descrita pelo seguinte:

“Ele moveu o cursor pela tela com a ajuda de um "mouse" e simplesmente “clicou” em um dos ícones na tela. Ele abriu e fechou "janelas", habilmente passando de uma tarefa para outra. Ele escreveu em um programa de processamento de texto elegante, e trocou e-mails com outras pessoas no Parc, pela primeira rede mundial de Ethernet. Jobs tinha vindo com um dos seus engenheiros de software, Bill Atkinson. Atkinson e se aproximou o mais perto o quanto podia, com o nariz quase tocando a tela.”

Vendo aquilo, Jobs se agitava e dizia para si mesmo: “Eu não acredito que eles não estejam fazendo muito mais coisas com essa tecnologia!”

Em um certo ponto da apresentação, lembra Tesler, Jobs ficou um pouco mais agitado e não mais se segurou, exclamando em alto e bom tom: “Por que você não está fazendo nada com isso? Esta é a melhor coisa. Isso é revolucionário! "

Xerox Alto - A CPU está debaixo da mesa
Deskbottom, em contraponto aos Desktops
O computador Xerox Alto apresentava três grandes inovações tecnológicas: A primeira era a ligação de computadores em rede. A segunda era a programação orientada a objetos e a terceira e mais impressionante (para jobs), era a interface de usuário gráfica, com a tela de bitmap e a operação por mouse.

A Xerox Alto foi um dos primeiros computadores projetados para uso individual (computador pessoal), no entanto, ele não era especificado para a opção de ser do tipo autônomo (standalone) como sonhava Jobs mas, sim, do tipo estação de trabalho (workstation), para ser operado exclusivamente em ambiente de redes corporativas.

O Alto nunca foi um produto comercial para a Xerox, apesar de mais de dois mil terem sido construídos. Universidades, incluindo o MIT, Stanford, CMU, e da Universidade de Rochester recebeu doações de Altos incluindo servidores de arquivos e impressoras IFS Dover laser.

Uma outra característica inovadora do Xerox Alto, que parece não ter sido bem explorada comercialmente pela Xerox e nem aproveitada de imediato pela Apple, foi o modo retrato de apresentação. Usado pela primeira vez no computador Xerox Alto, foi considerado tecnologicamente bem à frente de seu tempo quando o sistema foi desenvolvido pela primeira vez. Os comerciantes de produtos Xerox parece não terem entendido como o sistema era revolucionário, e a exibição retrato, apesar de ter influenciado algumas outras poucas aplicações de estações de trabalho fora da Xerox, desapareceu, enquanto o modo de exibição paisagem dos televisores se tornava comum, desde cedo, apropriados para o uso como nos monitores dos microcomputadores de baixo-custo.

Jobs foi um dos primeiros a ver o enorme potencial comercial da interface do usuário gráfica (GUI) operada por mouse do Xerox Alto, o que o levou à criação, ainda em 1979, imediatamente após as suas duas visitas ao Xerox PARC, do projeto Apple Lisa. Assim que retornou da segunda visita, ele exigiu de sua equipe na Apple, que estava trabalhando na próxima geração do computador pessoal (o fracassado Apple IIi), a mudar todo o seu pensamento. Ele queria menus, ele queria janelas, ele queria um mouse!

Steve Jobs e Bill Atkinson
De Allan Alcorn um dos magos da Atari: "Sculley acreditava em manter as pessoas felizes e preocupante sobre relacionamentos. Steve não dava a mínima para isso. Mas ele se importava sobre o produto de uma forma que  Sculley nunca poderia, e ele foi capaz de evitar que muitos palhaços que trabalham na Apple por insultar alguém que não era um jogador."

Sobre o Apple III, lançado em Maio de 1980, e que ao contrário do antecessor, foi um fracasso. Randy Wigginton, um dos engenheiros, resumiu o problema da seguinte maneira: “O Apple III era uma espécie de filho concebido durante uma orgia; mais tarde, todos estão com uma dor de cabeça terrível, e lá está aquele bastardo, e toda a gente diz: não é meu”.

Jobs já havia, então, de corpo e alma, adotado o projeto Lisa que, inicialmente, estava sendo desenvolvido por sua equipe. Todavia, depois de um tempo ele passou a ser convidado a se retirar e, por ordens da diretoria da Apple, ele acabou sendo afastado daquela equipe em 1982.

Jobs recebendo Markkula e o Capital de risco que ele trouxe para a Apple (1977)
É realmente algo difícil, complicado, de encontrar alguém disposto a dar uma explicação razoável sobre o porquê daquele afastamento de Jobs do projeto Lisa. No entanto, eu mesmo posso dar uma pista resultado de minhas pesquisas: tudo pode ter nascido de uma articulação entre Mike Markkula e Arthur Rock, um dos "fundadores" do Vale do Silício, na Califórnia.

Em 1977, Mike Markkula entrou na Apple Computer e, como "testa de ferro" de capitalistas de risco, ligou Steve Jobs e Steve Wozniak com Arthur Rock. Rock comprou 640.000 partes da Apple Computer por nove centavos por ação, um investimento de cerca de US $ 57.000, que integraram a linha de credito inicial de de US$ 250.000 que Markkula trouxe para a Apple. Assim, ambos, Markkula e Rock se tornaram em diretores da empresa. Três anos mais tarde, quando a Apple foi a público, suas ações valiam US$ 14 milhões, um retorno de 23.000%, aumentando ainda mais a reputação do Rock e de Markkula.

Something Ventured (2), um vídeo documentário de 2011 que destila sobre o surgimento do capitalismo de risco norte-americano da segunda metade do séc. XX, apresentando capitalistas de risco famosos, como Artur Rock, Tom Perkins, Bill Edwards, bem como empresários famosos, dentre os quais, Mike Markkula (Apple)






Jobs não era visto como aquilo que ele realmente era, imprescindível para a Apple, por nenhum desses dois senhores. Markkula via Wozniak como mais importante para a tecnologia dos produtos desenvolvidos na Apple do que Jobs, enquanto que Rock via Jobs como um competidor, uma ameaça, uma verdadeira pedra no sapato para o desejado controle total da empresa. 

Com Jobs, Rock foi confrontado por alguém que almejava controle. Lembrando desta época em um projeto de história da Universidade da Califórnia, Rock disse que “Jobs era um problema, muito cabeça dura”. Em sua afirmação, ele disse que: "... Jobs chateava as pessoas na empresa, pois queria que tudo fosse feito do seu jeito, e também não falava sobre o que ele estava fazendo, mesmo sendo um dos maiores acionistas da Apple".

Ao que tudo indica, o afastamento de Jobs do projeto Lisa em 1982, foi apenas um ensaio daquilo que viria a acontecer em 1986, já com a ajuda de John Sculley, o afastamento total de Steve Jobs da empresa Apple, empresa que ele próprio havia criado desde de a tenra semente e era, em si, a própria alma. Foi o confronto desigual e desleal,  mas sempre inevitável, entre o gênio criador e o capitalista de risco.

Apple. Intel. Genentech. Atari. Google. Cisco. Todas empresas muito conhecidas, com equipes e pessoas geniais de sucesso estratosférico e, com apostas altas ao redor. Por trás de cada uma das empresas mais revolucionárias do mundo estão um punhado de homens com aporte de capital para investimento que, através de timing, previsão e muita sorte, veem oportunidades e as aproveitam: são os capitalistas de risco originais.

Muitas dessas empresas não poderiam, ou acredita-se que não poderiam, ter se tornado realidade sem se debater, e se deixar levar, pelos capitalistas de risco. A partir disso, poderíamos parar com essa dissertação e recomeçar tudo a partir de um novo título: Arthur Rock e o "Assalto" ao Apple Seed...

Jobs estava interessado em desenvolver um computador pessoal que pudesse chamá-lo de sua "criação", e aquele afastamento compulsório do projeto Lisa deve tê-lo magoado muito. Embora os engenheiros da Apple tivessem criado o acrônimo LISA (Local Integrated Software Architecture) para explicar o nome do projeto, todos sabiam que Lisa era, também, o nome de sua primeira filha, Lisa Nicole Brennan-Jobs, nascida em 1978 e de quem Jobs estava afastado na época.

Apple Macintosh
Assim, aparentemente conformado, Jobs passou a adotar o projeto Annie, que vinha sendo encabeçado por Jef Raskin, que um ano depois, seria rebatizado de Macintosh de modo que Jobs empenhou-se no desenvolvimento desse computador que, por fim, revolucionou a indústria da informática. Curiosamente, com o Macintosh reacendeu um certo interesse em displays em formato retrato.

Ambos os produtos da Apple, Lisa e Macintosh foram lançados com menos de um ano de defasagem: o lisa saiu em Janeiro/2003 enquanto o Macintosh em Janeiro/2004. Durante todo o tempo relativamente longo do projeto desses dois produtos (o do Macintosh ainda maior), a Apple foi sustentada, principalmente, pelas vendas do Apple II que ainda continuavam a crescer, mesmo depois de 5 anos de amadurecimento.

O Apple Lisa havia sido concebido, inicialmente, para ser uma máquina vendida ao preço de 2 mil dólares, baseada em um microprocessador de dezesseis bits, em vez dos oito bits usados no Apple II, foi o primeiro computador da Apple a utilizar a interface gráfica baseado na tecnologia observada, copiada e aprimorada a partir do Xerox Alto, pois o Lisa foi lançado antes do Machintosh.

Apple Lisa
Embora também revolucionário, pois contava com um sistema de proteção de memória aprimorado, sistema multitarefas, um sistema operacional baseado em disco rígido, suporte para 2MB de memória RAM, Slots de expansão, além da interface gráfica e uso de mouse, o Apple Lisa foi um fracasso comercial. 

Tudo porque ele foi lançado ao preço de US$ 9.995 no varejo. Parte do fracasso comercial deveu-se a própria Apple e também a Jobs, que o prazo de apenas um ano converteu o Macintosh num concorrente mais barato que o Lisa, com o agravante do Mac ser mais rápido e totalmente incompatível com o seu predecessor.

Com isso, o Macintosh tornou-se um sucesso em vendas e em elogios por parte de influentes veículos de comunicação da época, enquanto parte importante do preço do Lisa, e do seu fracasso, pode ser atribuída ao seu excesso de memória. A título de comparação, em 1990 ainda se vendiam computadores com menos memória que o Lisa já tinha em 1983. Em janeiro de 1985, o Lisa 2/10 foi equipado com um emulador Macintosh e rebatizado Macintosh XL. Com isso a Apple lançou uma nova e curiosa forma de competição industrial e comercial: a auto concorrência.

O “ataque da Apple ao Xerox PARC” é descrito como "um dos maiores assaltos da história da indústria" e isso era endossado por Jobs, até com um certo orgulho quando falava: “Quer dizer, Picasso tinha um ditado que afirmava: ‘Artistas bons copiam, grandes artistas roubam’. E nós nunca sentimos vergonha de roubar grandes ideias.”. 

Outra avaliação aponta a situação como uma grande trapalhada da Xerox. “Eles estavam com a cabeça em copiadoras e não tinham a mínima ideia sobre o que um computador podia fazer. Eles simplesmente transformaram em derrota a maior vitória da indústria de computadores. A Xerox poderia ter se tornado a dona de toda a indústria de computadores.” disse Jobs a respeito da direção da Xerox.

Mas aquelas inovações observadas, copiadas e aprimoradas a partir do Xerox Alto, não se estabeleceriam no mercado apenas em 1983, com o lançamento do Apple Lisa pois, a Xerox chegou a lançar antes, um computador com as inovações do Xerox Alto, batizando-o de Xerox Star.

O equipamento foi disponibilizado, ainda em 1981, visando o mercado de escritórios em rede, sob a designação estendida de "The Xerox Star 8010 "Dandelion"". O Sistema de Informação 8010 da Xerox foi o primeiro sistema a usar uma metáfora do desktop totalmente integrado e conjunto de aplicativos.

Xerox Star 8010 "Dandelion""
Inicialmente, o termo "Star" referia-se tanto ao desktop e quanto ao software de aplicação (Sistema Operacional + Aplicativos). No entanto, o sistema como um todo, transformou-se em o comummente conhecido "The Xerox Star." O software de de aplicação. foi mais tarde renomeado para "ViewPoint", e, mais tarde renomeado novamente para "GlobalView".

Desenvolvimento do Star começou em 1977, usado conceitos provenientes do Xerox Alto. O desenvolvimento começou em máquinas de desenvolvimento precoce, de codinomes Dolphin e Dorado, que também poderiam executar o software do Alto. O resultado final foi  software completamente novo e escrito em  ambiente programação da Xerox MESA, em vez de BCPL, no qual o software do Alto havia sido (o BCPL inclusive, usava um microcódigo diferente). O hardware final do 8010/Dandelion  não era compatível com o Alto.

A série Star - Viewpoint - Globalview de 1981 representam a implementação mais completa da "metáfora do desktop" de todos os sistemas até o advento do desktop interfaces gráficas maduras, bem mais tarde no Mac e no PC / Unix / Linux a partir de 1990.

Estes sistemas estavam 10 anos à frente de seu tempo, com a composição sofisticada de documentos no aplicativo WYSIWYG, construído em Ethernet, e-mail, digitalização em rede impressão a laser, ambientes de desenvolvimento, incluindo Smalltalk, e muito mais.

O grande problema foi que custando US$ 16.596 no varejo, acabou por ser um fracasso comercial relativamente enorme, para uma empresa do tamanho da Xerox, vendendo apenas 30 mil unidades. As estações de trabalho Xerox, enquanto um fracasso comercial, ocupam uma posição importante na linhagem de sistemas de computação visual.

A relação de Jobs e sua filha, Lisa Brennan-Jobs, só se tornou mais próxima a partir de meados de 1986, quando a menina completou 8 anos.

NOTAS:


(1) Diferente de Jobs que, devido à sua natural arrogância, muitas vezes se expressava e agia com rancor, principalmente com relação aos que ele via como inferiores a ele, Steve Wozniak se caracterizava sempre pela lealdade e fidelidade com relação a Jobs. Steve Wozniak recebeu a Medalha Nacional de Tecnologia e Inovação em 1985. Em setembro de 2000, Steve Wozniak foi incluído na National Inventors Hall of Fame. Após deixar a Apple Inc., Woz forneceu todo o dinheiro, além de uma boa parte de suporte técnico, para a escola do distrito de Los Gatos. Em 2001, Woz fundou a empresa Wheels Of Zeus, uma companhia que produz soluções sem fio.

Como um tributo para Steve Jobs, após sua morte (falecido dia 5 de outubro de 2011), Woz acampou durante 20 horas em frente a uma loja da Apple Inc. na Califórnia, de forma a ser o primeiro cliente do estabelecimento a comprar o iPhone 4S.

(2) Para acessar este interessante vídeo, após clicar no linque disponível aqui, clique em 'FREE' e, em seguida, no botão PLAY ( ►) do vídeo. Saiba que, por que existe este linque para esse vídeo-documentário, a partir desta página, alguém se aproveitou e usou de pretexto para reclamar sobre "direitos autorais" (acho que foi alguém que não gostou muito da forma como eu "peguei pesado" com a minha própria versão sobre os "benefícios" que alguns personagens causaram à Apple), e com isso o Google-Adsense suspendeu a veiculação de propagandas em todo este site.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O Ser Intelectual na Modernidade


No nosso dia a dia, fazemos um uso muito frequente de termos que fazem parte da ampla classe dos “nomes”, quer seja para identificar seres e objetos, com o ato de “dar nomes” (na verdade, em geral, apenas associar-lhes um nome já existente), rotulando os seres e objetos palpáveis e impalpáveis que conhecemos ou idealizamos, ocasião em que lançamos mão da classe gramatical de palavras denominada substantivos ou, ainda que seja para caracterizar, especificar e especializar os mesmos seres e objetos, ocasião em que empregamos palavras da classe dos adjetivos.

Assim, substantivos e adjetivos têm em comum o fato de fazerem parte da ampla classe denominada, simplesmente, “nomes”. Existe uma diferença entre eles, mas essa diferença só se evidencia funcionalmente, quando aparecem combinados no sintagma nominal, numa ordem linear, o substantivo funcionando como núcleo, e o adjetivo como modificador. Quando isolados, nem sempre é possível uma distinção tão nítida entre substantivos e adjetivos, porque eles têm características mórficas semelhantes, isto é, flexionam-se para expressar as categorias de gênero e número.

O termo “Intelectual”, por exemplo, segundo professor e lexicógrafo brasileiro Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, é um termo derivado do latim tardio (intellectuale), ou seja, o latim empregado em literatura dos séc. III a V da era cristã, e que seguiu perdendo a força entre os séculos VI e VII. Já, segundo a Wikipédia em língua portuguesa, “intelectual” é um empréstimo linguístico originário da França, onde foi usado pela primeira em no final do século XIX.

Buarque de Holanda cita escritos do português José Duarte Ramalho Ortigão (Porto, 24 de outubro de 1836 — Lisboa, 27 de setembro de 1915), que aparecem na obra de compilação póstuma de textos de crítica literária, publicada em 1943 (volume 1) e 1945 (volume 2), no entanto, não me foi possível até o momento precisar a data do escrito em que aparece, especificamente, a frase:

“A infanta D. Maria era uma mulher espirituosa, de grande cultura intelectual”

Já a Wikipédia de língua francesa confirma que o termo "intelectual" é de início recente e está diretamente ligada ao caso Dreyfus, um polêmico caso de erro judiciário militar que agitou a França entre 1894 e 1906: a palavra foi adotada por Maurice Barres e Ferdinand Brunetière, que em seus escritos anti-Dreyfus, nos quais pretendiam denunciar o comprometimento de escritores como Émile Zola, Octave Mirbeau e Anatole France em favor de Dreyfus, e em assuntos militares e de espionagem, o que era estranho para eles.

Deste modo, o tom do emprego inicial do termo “intelectual” teria sido pejorativo, uma vez que tendia a levar os leitores a considerarem o intelectual visto como um refugiado em pensamentos abstratos, que perderia facilmente de vista a realidade e que lidaria com assuntos que não lhe seriam familiares. Mas o próprio desfecho do caso Dreyfus serviu de virtual desagravo contra tal significado de emprego do termo.

Na internet, existe referência a pelo menos mais uma obra literária, mas que assinala o emprego do termo “intelectual”, como anterior aos eventos na frança, mais especificamente, para o ano de 1857, na Itália, na obra literária intitulada “Della Conoscenza Intellettuale”, volume 1, publicada em 1857, sob a autoria de Matteo Liberatore.

Além do mais, a Wikipédia em língua italiana corrobora com Buarque de Holanda, ao afirmar que o termo deriva do latim tardio “intellectualis” (intelectual), um adjetivo que quer indicar o que em filosofia tem relação com o intelecto e a sua atividade de elaborar teorias e racionalizar métodos e, portanto, é caracterizada como sendo separada da sensibilidade e da experiência, consideradas de baixo nível cognitivo.

Na concepção aristotélica, intelectuais foram definidos como aqueles cuja virtude era a ciência, a sabedoria, a inteligência e a arte, que permitiam a alma intelectiva alcançar a verdade. No campo da metafísica, o termo foi, então, empregado para indicar o abstrato, em oposição à concretude e materialidade.

Assim, ao que tudo indica, parece a imprensa francesa apenas popularizou o termo “intelectual”. Seja como for, o termo “intelectual” trata-se, com certeza, de um empréstimo linguístico mas, em nada um neologismo e, cuja origem conceitual, remonta a época do Liceu de Atenas, para mais de três séculos antes de Cristo.

Um dos principais espaços de atuação do intelectual é a Universidade e, neste espaço o intelectual acadêmico desenvolve e realiza a sua atuação. Todavia, um intelectual não precisa, necessariamente surgir ligado a uma Universidade mas, sendo efetivamente um intelectual produtivo, acabará, de algum modo, por fim, sendo ligado a alguma delas. Este é o caso de muitos empreendedores que, apesar de serem tidos sobretudo como empresários de sucesso, são também notórios intelectuais. No final do ano de 1972, Steve Jobs, o principal fundador da empresa desenvolvedora e produtora de computadores Apple, ingressou na universidade Reed College em Portland, Oregon, onde cursou formalmente apenas por seis meses e anos mais tarde testemunhou: "Desistir foi a melhor coisa que fiz. Pude me dedicar às coisas que eu realmente queria fazer."

Jobs passou 18 meses frequentando o campus da Reed College, onde ganhou permissão para acompanhar as aulas como observador. Entre os cursos assistidos por Jobs estava um curso de caligrafia que anos mais tarde influenciaria na tipografia do Macintosh. Sobre o curso de Caligrafia, Steve Jobs falou: "Aprendi sobre letras com serifas e sem serifas, sobre como variar a quantidade de espaço entre diferentes combinações de letras, sobre o que torna uma tipografia excelente. Aquilo foi lindo, histórico, artisticamente sutil, de uma maneira que a ciência não havia podido captar ainda, e achei fantástico.”

Steve Jobs teve participação direta na elaboração de poucos livros, sozinho mesmo ele não escreveu nenhum, mas orientou ou inspirou a criação de várias duzias de obras. Jobs, morreu aos 56 anos de idade vítima de cancro no pâncreas. "Saber que morrerei em breve foi a mais importante ferramenta que encontrei para me ajudar a tomar as grandes decisões da minha vida. Porque quase tudo – expectativa, orgulho, medo do embaraço ou do insucesso – é insignificante perante a morte, ficando apenas aquilo que é realmente importante. Lembrar a inevitabilidade da morte é a melhor forma de evitar a armadilha de pensar que se tem realmente alguma coisa a perder", afirmou Jobs, enquanto agradecia um doutoramento honoris causa recebido pela Universidade de Stanford em 2005. O mundo perdia um gênio visionário.

Se a principal meta de um intelectual e produzir mudanças de pensamentos, posturas e comportamentos nas pessoas e nas sociedades, então, tanto Steve Jobs, quanto Jesus Cristo, foram notórios intelectuais. Se uma externalidade do intelectual moderno é denotada por produzir, inovar e gerir o capital e a propriedade intelectual, ou então dar inúmeras palestras universitárias (mesmo sem ter um curso superior formalmente concluído) então Jobs foi, realmente, um sumo intelectual, com vantagens diferenciadas sobre o intelectual acadêmico formatado, que consistiram nos seus mais elevados sensos de empirismo, praticidade e empreendedorismo, não como únicos, mas como principais meios de produzir inovação nas ciências e nas tecnologias.

Na prática, a definição do intelectual é realizada, principalmente, por outros intelectuais e estes definem o termo segundo seus próprios posicionamentos intelectuais, fato este que complexifica a definição. Num conceito mais popular, o intelectual é definido a partir da perspectiva do uso da palavra, pelo meio social no qual vive ou no qual estabelece sua trajetória social.

Ao que tudo indica, em seus primórdios, o termo “intelectual” foi idealizado para ser empregado como um adjetivo, ou seja, uma palavra que modifica um substantivo e que dá precisão ao seu sentido. Esse processo constitui um mecanismo produtivo na língua, dada a capacidade dos adjetivos de expandir e diversificar a ideia básica definida pelos substantivos.

Uma especialidade do adjetivo “intelectual” é que o substantivo que o acompanha precisa ser, necessariamente, um ser ou uma entidade capaz de raciocínio, apto a operação mental, discursiva e lógica, de modo que, “intelectual” surgiu como um adjetivo para ser associado, exclusivamente, a seres humanos, atribuindo-lhe o estado, a qualidade e a característica de um “ser intelectual”.

No entanto a popularização do termo desde o o final do século XIX acabou por torná-lo, na prática, também um substantivo. Uma palavra se torna substantivo simplesmente quando toma o lugar de um. A distinção feita entre um substantivo e um adjetivo não é, em geral, de significado (semântica) mas, sim, de função (sintaxe). Adjetivos que se tornam substantivos são casos que acontecem com frequência, por exemplo, dentro da gramática japonesa.

Também um adjetivo pode derivar de um substantivo, o que resulta na evidente existência de semelhanças morfológicas (de estrutura e de formação das palavras) entre eles, que é algo que justifica o fato de que ambos, adjetivos e substantivos, recebam a denominação comum de “nomes”. Existem ainda casos de palavras que são, em geral, substantivos, mas que podem ser usadas como adjetivos (substantivos adjetivados).

Para a classificação dos substantivos é adotado normalmente o critério semântico e para os adjetivos, o critério sintático. Voltado para o aspecto semântico das ocorrências de substantivos e adjetivos e na transitoriedade entre eles, tanto no português do Brasil como em outras línguas, alguns autores modernos tem buscado demonstrar que a classificação das classes de palavras, conforme as gramáticas escolares, não atende às necessidades do discurso, sobretudo, devido a mistura de critérios semânticos, morfológicos e sintáticos.

A “intelectualidade”, substantivo feminino que pode significar tanto o conjunto e a classe dos indivíduos intelectuais, como também as faculdades intelectuais em si, muitas vezes é interpretado como sendo “inteligência” mas, essa é uma interpretação bastante questionável atualmente, uma vez que o conceito de “inteligência” parece ser mais abrangente, envolvendo eixos cognitivos que vão além da intelectualidade, como a competência, que é a capacidade do indivíduo em agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiando-se em conhecimentos, mas sem se limitar a eles.

A inteligência dota o indivíduo da capacidade de resolver situações problemáticas novas mediante reestruturação dos dados perceptivos e para isso, a inteligência envolve, ainda, o desenvolvimento de habilidades, que decorrem das competências adquiridas e referem-se ao plano imediato do saber fazer. Através do exercício das ações e operações, as habilidades se aperfeiçoam e se interagem, possibilitando nova reorganização das competências.

Atualmente existe um consenso cientifico em torno de um conjunto de cinco competências humanas básicas para a atividade educacional, que são: “dominar linguagens”, “compreender fenômenos, “enfrentar situações-problema”, “construir argumentações” e “elaborar propostas”. Com o intuito de fomentar a formação e o desenvolvimento de uma comunidade investigativa cientifica (uma comunidade de intelectuais) através da educação, a próxima competência inserida como básica, somada às que já foram definidas, bem que poderia ser “investigar ciências”. Esta competência, que é também relativamente básica mas, dependente das anteriores elencaria, entre outras habilidades, as relativas a investigação ou pesquisa, a síntese e a organização. Isso feito, e já num nível mais elevado, abarcando todas as competências anteriores, poderia aparecer uma competência que se apresenta como a chave da sobrevivência e do sucesso, para o intelectual na modernidade: o “empreender avanços intelectuais”.

Muitos autores ainda costumam definir “competência” como sendo, simplesmente, um conjunto de habilidades, mas essa definição pode ser insuficiente e, portanto, mal interpretada, na medida em que se percebe que o relacionamento entre estas duas entidades é caracterizado por ser do tipo N:N, ou seja, um tipo de cardinalidade que envolve um relacionamento “muitos para muitos”. Assim, além de uma dada competência conter um conjunto de habilidades, uma dada habilidade pode estar contida em uma variedade de competências. A diferença entre elas pode se tornar tênue, enquanto o principal diferencial se torna, tão somente, quanto ao aspecto, que é mais geral nas competências e mais especifico nas habilidades.

Além disso, o conceito moderno de inteligência envolve, também, um bom êxito do bem estar emocional do indivíduo que a possui que, apesar de serem considerados aspectos não cognitivos da inteligência, dota-o da capacidade de reconhecer os próprios sentimentos e os dos outros, assim como da capacidade de lidar com eles, percebendo e exprimindo a emoção, assimilando-a ao pensamento, compreendendo e racionalizando no contexto emocional, regulando as emoções em si próprio e a sua volta, resultando em atitudes e posturas que levam o individuo a viver de uma forma mais satisfatória.

Assim, a intelectualidade se caracteriza por um avantajado desenvolvimento do conhecimento científico, quer seja envolvendo apenas uma área específica, quer seja das ciências factuais (empíricas), ou seja da ciências formais e suas ferramentas para fazer ciências, quer seja na área das ciências naturais, ou na área das ciências sociais, ou mesmo atuando concomitantemente em múltiplas dessas áreas, mas sempre associado a uma boa capacidade de comunicação e de articulação dos frutos do intelecto produzidos.

No entanto, a intelectualidade restringida a si própria pode resultar em não ser positivamente produtiva para o próprio indivíduo que a possui, caso ela não seja desenvolvida com certos cuidados pois, quando a intelectualidade suprime a inteligência, há uma propensão de o individuo passar a se autodestruir com os seus próprios saberes.

Não raro, muitos intelectuais passam a viver um estilo de vida que reflete angustia e infelicidade, frequentemente recorrendo, inclusive, a externalidade de conduta desenfreada, tais como ao abuso de álcool e outras drogas e promiscuidade sexual, simplesmente por se descuidarem da premente necessidade de aprender a lidar com a sua própria intelectualidade, o que acaba por torná-los, de certo modo, improdutivos até mesmo para os que os seguem mais de perto. Isso pode ocorrer com qualquer intelectual mas, parece existir uma tendência de ocorrer de maneira mais acentuada àquele dedicados às ciências sociais.

Em sua obra literária escrita em estilo de crônica pessoal e intitulada "A Educação do Estóico", o escritor português Fernando Pessoa (Barão de Teive) escreve:

“Não há maior tragédia do que a igual intensidade, na mesma alma ou no mesmo homem, do sentimento intelectual e do sentimento moral. Para que um homem possa ser distintivamente e absolutamente moral, tem que ser um pouco estúpido. Para que um homem possa ser absolutamente intelectual, tem que ser um pouco imoral. Não sei que jogo ou ironia das coisas condena o homem à impossibilidade desta dualidade em grande. Por meu mal, ela dá-se em mim. Assim, por ter duas virtudes, nunca pude fazer nada de mim. Não foi o excesso de uma qualidade, mas o excesso de duas, que me matou para a vida.”

Este pensamento expressa a ideia de que intelectualidade e moralidade talvez sejam incompatíveis mas, revela, sobretudo, que o Barão de Teive, que é possivelmente o último semi-heterônimo criado por Fernando Pessoa, adotado para a autoria desse único manuscrito, reuniu, como ele próprio expressa, de forma trágica, as várias obsessões do seu criador.

Fernando Pessoa, um dos maiores escritores portugueses mundialmente conhecidos, que evolucionou toda a produção poética portuguesa do século XX, era um aristocrata buscando e rebuscando traços de sangue azul na sua linhagem paterna e promulgando uma teoria de aristocracia interior; era solteiro, abastado e tinha grande dificuldade de lidar com a sexualidade.

Segundo Richard Zenith, editor e autor do post-mortem do livro que trás o tal escrito, o Barão de Teive assumiu o aspecto mais perigoso do seu criador - a razão sem freio, que o levou à conclusão de que a conduta racional da vida era impossível, e sendo assim o suicídio era a saída que a razão lhe impunha.

Traduzindo sucintamente, sem duvida Fernando Pessoa (Barão de Teive) foi um intelectual, mas subjugado pela sua própria conduta racional e, impossibilitado de dominar os seus sentimentos e emoções, confessava-se não ser um homem inteligente e, menos ainda, realizado e feliz, o que conduz a conclusão que, de fato, intelectualidade não significa, necessariamente, inteligência.

Alguns autores atuais já passam, inclusive, a incluir no rol da inteligência, aspectos como consciência interior e espiritualidade. Nem só razão, nem só emoção. Para o indiano Amit Goswami, a base da criatividade é a inteligência que baseia-se, também, nas percepções sutis e na intuição, por exemplo, ideia compartilhada pelo líder religioso conhecido como Osho Bhagwan Shree Rajneesh, que vai além, afirmando que Inteligência é o crescimento da consciência interior, não tendo nada a ver com conhecimento. Para estes autores, a inteligência está associada com meditatividade, com os valores e virtudes, e com os arquétipos que definem verdade, beleza, amor, justiça, bondade, entendendo que a consciência é a base da existência.

A consideração de temas correlatos a isso vem crescendo, inclusive, entre os cristãos. O pastor evangélico Silas Malafaia, que além de teologia é formado em psicologia pela Universidade Gama Filho, publicou a poucos anos um pequeno livro intitulado “Inteligência Espiritual”, com enfoque para o fato de que a inteligência humana tem uma dimensão espiritual e que a fé cristã é uma manifestação inteligente.

Apenas visando despertar uma reflexão descompromissada no leitor, eu coloco, ainda, as seguintes provocações conjecturais: As bibliografias de Fernando pessoa expõem, de um modo geral, aproximadamente, o seguinte (seguimentos baseado em Wikipedia): “Pessoa e o ocultismo: Fernando Pessoa interessava-se pelo ocultismo e pelo misticismo, com destaque para … (denominações religiosas) … embora não se lhe conheça qualquer filiação concreta ...”; “O seu poema hermético (estudo e prática da filosofia oculta e da magia) mais conhecido e apreciado entre os estudantes de esoterismo intitula-se ...”; “Tinha o hábito de fazer consultas astrológicas para si mesmo ...”; “Apreciava também o trabalho do famoso ocultista … Os seus conhecimentos de astrologia impressionaram … “

Quanto a Jobs, apresenta-se o seguinte: “Em seu período acadêmico, Jobs começa a ler livros sobre espiritualidade e iluminação e se torna adepto de dietas compulsivas. Jobs andava descalço pela universidade, não tomava banho e devolvia garrafas de refringente para receber alguns trocados. Aos domingos realizava caminhadas até o centro … (denominação religiosa) … para ganhar uma refeição quente. Quando precisava de dinheiro, fazia pequenos reparos eletrônicos nos equipamentos do laboratório de Psicologia. Em 1974 consegue um emprego na Atari. A empresa serviria de trampolim para que Jobs alcançasse a Europa e depois a Índia, onde faria uma jornada espiritual …”

Me parece claro que ambos intelectuais viveram cônscios de que eles tinham algum tipo de necessidade espiritual que precisa ser, de alguma forma, atendida. Evidencia-se que ambos buscaram lidar com o sofrimento fazendo dele um aprendiza espiritual! De modo que, postulados que propõem estabelecer relacionamentos entre inteligência e espiritualidade, a mim não parecem, em nada, absurdos.

Assim, os intelectuais não se caracterizam por sua elevada “inteligência” mas, sim, pela posição que assumem para si mesmos, no conjunto das relações sociais. Um indivíduo pode ser um intelectual faltando-lhe, até mesmo, algumas das competências mais básicas, além das consequentes habilidades associadas. Alguém pode ser um intelectual, sendo falho ou mesmo desprovido de inteligência emocional, ou ainda de inteligencia espiritual.

Dedicar-se a atividades intelectuais, mesmo que resulte em prazer ao indivíduo que o faz, assim como o hábito do uso de drogas o faz com os seus usuários, não requer que haja como resultado um estado de felicidade ou mesmo de autossatisfação no modo de vida do intelectual, nem mesmo garante a posse de uma postura ética, diante dos objetos-alvo dos seus estudos científicos. Por conseguinte, é apenas através do seu papel na divisão social do trabalho que podemos entender melhor quem são os intelectuais, dentro de uma visão da intelectualidade enquanto classe social.

Podemos, a partir desta visão, definir os intelectuais como uma classe social, composta pelos indivíduos dedicados exclusivamente ao trabalho intelectual. Tal classe social assume formas diferentes em sociedades diferentes. Os intelectuais sempre tiveram uma posição privilegiada no interior da divisão social do trabalho. Historicamente, os intelectuais, dentre estes notadamente os “ideólogos”, surgiram a partir da expansão da divisão social do trabalho e sempre estiveram, ou ao lado da classe dominante, ou em apoio às forças de oposição a esta.

Na sociedade escravista, os intelectuais eram, em sua maioria, os filósofos; na sociedade feudal, os teólogos e, na sociedade moderna, os cientistas. A forma de remuneração, ou os meios de sobrevivência, variam de acordo com o modo de produção, mas sempre possuem rendimentos superiores aos das classes operárias. Portanto, trata-se de uma classe social que ocupa determinado papel no processo de reprodução da sociedade e privilégios derivados disto. A sua constituição e dinâmica depende da totalidade das relações sociais e do modo de produção que está na base de uma determinada sociedade.

Isto quer dizer que existem semelhanças entre os intelectuais nos diversos modos de produção mas também diferenças. Obviamente que o papel e as características da intelectualidade, enquanto classe social poderia, devido a tais diferenças, gerar distinções nas terminologia usadas para defini-los. Sem dúvida, assim como se pode utilizar a expressão “trabalhadores” para se referir tanto aos escravos da sociedade antiga quanto aos operários da sociedade moderna ou a expressão genérica de “classe dominante” para os variados grupos que sucedem um ao outro no poder, o mesmo se pode fazer com a intelectualidade.

Isto é derivado de um necessário nível de generalidade maior da expressão, que deve, a cada forma de sociedade existente, receber um tratamento diferenciado, pois ao lado das semelhanças existem as diferenças. Todavia, num grau maior de generalidade, é fato que os intelectuais, em todas as sociedades, em sua maioria, fazem parte das classes sociais mais privilegiadas, sendo ainda, frequentemente, utilizadas como uma classe auxiliar pela classe dominante, dedicando-se exclusivamente ao trabalho intelectual que favoreça os interesses dessa, da qual se tornam servidores e dependentes.

O surgimento dos intelectuais ocorre com a separação entre trabalho intelectual e manual. Os intelectuais passam a se dedicar ao trabalho intelectual e, frequentemente, o produto do seu trabalho é de cunho ideológico. Em geral, os intelectuais não produzem a ideologia em si mas, sim, processos de sistematização dela, transformando as representações lúdicas existentes em saber sistemático, como filosofia, teologia, ou outra forma de ciência. Por exemplo, os economistas traduzem para a linguagem da ciência econômica, as representações cotidianas dos agentes do processo econômico.

Uma ideologia, uma vez produzida, passa a legitimar as relações sociais existentes, cumprindo o papel de naturalizá-las e universalizá-las, sob uma forma também considerada legítima, a forma científica, filosófica, teológica. Assim, um saber legítimo realiza a legitimação das relações sociais existentes. O discurso dos intelectuais possui uma legitimidade devido ao fato de ser considerado verdadeiro e superior. A legitimidade do discurso do intelectual se encontra na sua autodeclarada capacidade de monopolizar a veiculação da verdade, através da razão, da interpretação da palavra de Deus, da pesquisa empírica, ou de qualquer outra justificativa, ela mesma, ideológica em si, mas aceita socialmente.

Assim, os intelectuais estão frequentemente ligados à burocracia e a passagem de um intelectual para a burocracia, estatal ou privada, é bastante corriqueira, tendo em vista que o “capital cultural” pode se tornar um meio de se conquistar cargos de direção no Estado ou nas instituições da sociedade. Numa determinada sociedade em que a produção intelectual esteja predominantemente subordinada aos interesses da classe dominante, é evidente que o papel da maioria dos intelectuais será o de conservador, e não o de setor progressista da sociedade. Neste caso, a educação, a produção científica, etc., deixam de ser elementos que contribuiriam com a emancipação humana e os intelectuais, por sua posição social e pelos interesses e valores derivados dela, acabam por se tornar agentes da conservação e não da transformação.

Neste sentido, a suposta “liberdade” ou “autonomia” dos intelectuais, como defendeu o sociólogo Karl Mannheim, se torna uma ficção, e eles passam a ser tão condicionados e determinados quanto qualquer outra classe social. Os intelectuais passam a ter os seus interesses próprios, particulares, ligados aos interesses da classe dominante e, prevalecendo a manutenção de uma posição privilegiada na sociedade, altos salários, status, etc.

Se a própria existência dos intelectuais e de seus privilégios depender da conservação da sociedade, isso significa que os intelectuais estarão indissoluvelmente ligados ao poder e sem autonomia. No entanto, pode faz parte da lógica dos seus interesses produzir um discurso de sua autonomia, pois assim escamoteia sua ligação com o poder e ganha legitimidade. A ideia da autonomia dos intelectuais é uma ideologia produzida pelos intelectuais e para os intelectuais, que pode ser exemplificada pela ideologia a respeito da “neutralidade de valores” na ciência mas, também pode ser puro interesse da classe dominante. Neste sentido, os intelectuais são meramente uma classe auxiliar da burguesia, devendo, todavia ocultar esta relação.

A tese da autonomia dos intelectuais já foi defendida inúmeras vezes e sob as mais variadas formas. Realmente, os intelectuais possuem uma autonomia relativa, como todos os indivíduos, grupos e classes sociais em nossa sociedade. No entanto, não raro, os intelectuais possuem o desejo de se tornar burocratas (dirigentes), ou a própria nova classe dominante e os burocratas buscam legitimar sua dominação através do discurso sobre o saber. Aqueles que sabem devem dirigir, ou, como já dizia Bacon, “saber é poder”. Daí a suposta eterna aliança, a cumplicidade entre burocratas e intelectuais.

Poucos são os intelectuais que denunciam a si mesmos. Geralmente a crítica aos aberta aos intelectuais é proveniente de não-intelectuais. Obviamente que estamos nos referindo aos intelectuais enquanto classe social, isto é, aqueles que exercem a função de intelectuais, e não qualquer pessoa que realiza uma produção intelectual, pois nesta segunda acepção mais ampla, se não todos mas, um número muito maior de indivíduos são inseridos e considerados intelectuais, entre os quais eu me incluo.

Uma das críticas mais fortes aos intelectuais enquanto classe social foi a realizada por Jan Wanclaw Makhaïsky (1981), que realizou uma análise de cunho marxista dos intelectuais, observando os seus altos rendimentos e a fonte de tais rendimentos: a renda nacional e esta, por sua vez, é oriunda da exploração capitalista, isto é, da extração de mais valor da classe operária. O nível de vida quase burguês dos intelectuais é derivado de sua apropriação de parte do lucro patronal, de parte do mais valor global. Segundo a analise, se esta intelectualidade se diz “socialista”, seria porque ela visa concentrar os meios de produção nas mãos do Estado, para assim garantir a apropriação de uma parte maior do mais valor global.

Makhaïsky anunciou profeticamente o destino da Rússia ao criticar o bolchevismo e ser perseguido pelo Partido Bolchevique. A Revolução Bolchevique e a burocratização que lhe acompanhou gerou diversos estudos sobre a “nova classe” e sobre a burocracia e a intelectualidade. Em 1973/1974, o sociólogo Ivan Szelenyi e o romancista George Konrád escreveram Os Intelectuais e o Poder, expressando a tese de que a intelligentsia se torna uma classe que cada vez mais reduz sua distinção com a burocracia no “socialismo real” do Leste Europeu (Konrád e Szelenyi, 1981). Estes e muitos outros estudos tematizaram a intelectualidade e revelaram, com maior ou menor exatidão, as relações entre esta classe social e o poder.

Porém, é preciso deixar claro que existe uma distinção entre indivíduo e classe social. A intelectualidade, enquanto classe social, é conservadora, o que não quer dizer que todos os intelectuais, ou seja, cada um dos indivíduos pertencentes a esta classe, sejam conservadores. O indivíduo possui uma autonomia relativa e, dependendo do desenvolvimento de sua consciência, valores, interesses, ele pode, mesmo pertencendo a uma classe social conservadora, romper com a reprodução das concepções desta. Obviamente que para aqueles que realizam tal processo, é costuma ser reservada uma considerável perda de posição social, de modo de vida e todos os valores, interesses, etc., derivados de pertencer a classe da intelectualidade, e que predispõe todos os indivíduos que a compõe ao conservadorismo.

No entanto, vários indivíduos podem romper, seja devido ao seu processo histórico de suas vidas, por relações familiares, por desenvolvimento da consciência, por ligações com pessoas, pela a percepção de que apesar dos privilégios também está submetido à alienação, ao modo de vida degradado do mundo contemporâneo e ao processo de desumanização, entre outros fatores, podem contribuir com isso. Todas as classes sociais produzem seus representantes intelectuais, que podem ou não exercer a função de intelectual, isto é, indivíduos que produzem concepções (que são de seu interesse).

Esta ruptura pode ser parcial ou total. Um intelectual profissional, por pertencer aos extratos mais baixos de sua classe social, pode se revoltar contra sua condição e assim assumir um discurso crítico e até se aliar a setores que pregam a transformação social, o que não significa que tenha se tornado autenticamente um intelectual revolucionário, pois sua produção intelectual ainda fica limitada por não realizar uma superação completa, já que o seu posicionamento não é derivado de uma identificação dos seus interesses com os das demais classes mas, sim um descontentamento individual que proporciona uma revolta individual sem grande alcance e que, se for compensado, pode “mudar de lado”.

Este é o caso de diversos intelectuais ligados a partidos políticos, principalmente de “esquerda”, e é isso que possibilita a ideia do caráter corruptível de tais intelectuais, embora existam aqueles que são dissimulados, que tão logo assumam algum cargo mostram sua verdadeira face, existem também os iludidos, que são sinceros mas que não conseguem ultrapassar determinadas concepções – não se aliando com a direção e nem rompendo com o partido – e geralmente ficam à margem do partido, principalmente quando este se fortalece através das vitórias eleitorais.

Além do mais, não obstante, nem toda produção intelectual é embebida em engajamento político partidário ou político ideológico e, principalmente estas é que continuam a ser contribuições fundamentais válidas dos intelectuais para o desenvolvimento do pensamento complexo.

Toda suspeição contida no discurso dos parágrafos anteriores pode parecer exagerada e, o leitor mais intelectualizado pode até identificar um fundo de cunho ideológico marxista nelas, donde, de fato, elas foram extraídas. Todavia, elas podem ser, também, algo absolutamente salutar e, fazer parte, inclusive, da metodologia científica que tem sua origem no pensamento de Descartes, e que foi posteriormente desenvolvida empiricamente pelo físico inglês Isaac Newton. René Descartes propôs chegar-se à verdade através da dúvida sistemática e da decomposição do problema em pequenas partes, características que definiram a base da pesquisa científica.

Lê-se no livro o “Discurso do Método”:

“... E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os vícios, de sorte que um estado é muito melhor governado quando, possuindo poucas, elas são aí rigorosamente aplicadas, assim, em lugar de um grande número de preceitos dos quais a lógica é composta, acrediteis que já me seriam bastante quatro, contanto que tomasse a firme e constante resolução de não deixar uma vez só de observá-los.

O primeiro consistia em nunca aceitar, por verdadeira, coisa nenhuma que não conhecesse como evidente; isto é, devia evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção; e nada incluir em meus juízos que não se apresentasse tão claramente e tão distintamente ao meu espírito que não tivesse nenhuma ocasião de o pôr em dúvida.”

Também dos pilares do pensamento científico considera Princípio da Falseabilidade, onde as hipóteses devem ser sempre testáveis (falseáveis), o que se aplica a todas as hipóteses científicas, desde as mais simples conjecturas, até àquelas elevadas à categoria dos postulados, para o cientista sincero, tudo que se acredita como verdadeiro deve estar sempre pronto a passar por testes de falseabilidade, sempre que requerido, incluindo ele próprio e sua pressuposta autonomia, seja como indivíduo ou como classe. A ocorrência de penas um novo fato verificável, contudo contraditório, é suficiente para que as ideias teóricas conflitantes se tornem passíveis de ser compulsoriamente recicladas ou mesmo abandonadas.

Não obstante, há que se cuidar para não se cair no estreitamento cego do anti-intelectualismo, que descreve um sentimento de hostilidade em relação a intelectuais e seus objetos de pesquisa. Isto pode ser expresso de várias formas, tais como ataques aos méritos da ciência, educação, arte ou literatura, coisas que só resultam na ampliação da alienação dos saberes da maioria.

Em geral, o anti-intelectualismo se justifica mediante os argumentos ideológicos e pragmáticos, coisas que, em geral, não são produzidas pelas pessoas mais simples, mas sim, pelos próprios intelectuais, e que, no entanto, que acabam por motivar, entre outras coisas, o ressentimento de pessoas menos instruídas contra os eruditos e a hostilidade em relação ao trabalho realizado pelos intelectuais, como educação, pesquisa, crítica social e cultural, literatura, e a acusação de parasitismo social, apoiadas na ideia de que os intelectuais não teriam uma função econômica na sociedade, sendo esta última compreendida, portanto, de maneira organicista, e ainda acusações e condenações sumarias por subversão e morbidez, o que frequentemente ocorre em nações que se encontram debaixo de políticas autoritárias ou regimes de exceção.

Em geral, um intelectual é o pior inimigo de outro intelectual qualquer, e isso se torna ainda mais evidente, recorrente e perigoso entre os intelectuais ligados ao âmbito das ciências sociais, que permanecem, numa especie de eterno jogo de intelectualidade, divididos entre as correntes de direita e correntes de esquerda. É notório o fato de ocorrência que tristes eventos de anti-intelectualismo já tenham existido no território de nações dotadas de classes dominantes de tendências ideológicas as mais diversas, como os EUA e a antiga URSS, igualmente.

Anti-intelectualismo geralmente é expressado nas comunidades por declarações de "diferença", isto é, os intelectuais são ditos como "não sendo um dos nossos". Estes que desconfiam de intelectuais, os representam como um perigo para a normalidade, insistindo que se tratam de estranhos com pouca empatia pelas pessoas comuns.

Isto historicamente tem resultado em intelectuais sendo retratados como membros arrogantes de um diferente grupo social. É comum para comunidades, em geral, vincular a ideia de intelectualidade com grupo de estrangeiros residentes ou de membros de minorias étnicas presentes. Já, em comunidades rurais, por exemplo, intelectuais talvez sejam vistos como "invejosos da cidade" que conhecem pouco do vilarejo e seus modos.

Comunidades religiosas fundamentalistas tendem a vincular intelectuais com a promoção do ateísmo, enquanto os modos sexuais dos intelectuais também são colocados em duvida, onde são suspeitos de promiscuidade, tendências homossexuais ou falta de interesse por sexo. Notavelmente, quem condena intelectuais tende vinculá-los não com apenas uma, mas uma combinação destas características acusatórias.

Juntamente com tudo isto, intelectuais podem ainda ser vistos, de modo absurdo, como sujeitos a instabilidade mental, com seus críticos insistindo na existência de uma correlação médica entre e genialidade e insanidade.

O intelectual nunca deve perder de vista que, os fatos científicos, embora não necessariamente reprodutíveis, devem ser sempre, de alguma forma, verificáveis. Neste aspecto as ciências naturais geralmente estão em permanente vantagem, se comparadas às ciências sociais. Tanto o erro quanto o engano, assim como a fraude deliberada, existem em ambas os campos mas, as ciências naturais tendem a ser menos susceptíveis a isso, apesar de não serem isentas.

Um caso exemplar noticiou-se recentemente, neste ano de 2012, sobre a confirmação final autoria de uma fraude científica cujo mistério já dura por exatos cem anos, envolvendo a assim chamado “Homem de Piltdown” que era formado por fragmentos de um crânio e de uma mandíbula recuperados nos primeiros anos do século XX de uma mina de cascalho em Piltdown, vila perto de Uckfield, no condado inglês de Sussex. Especialistas da época afirmaram que os fragmentos eram restos fossilizados de uma até ali desconhecida espécie de homem primitivo. A denominação latina de Eoanthropus dawsoni foi dado ao novo espécime.

A significância do espécime permaneceu objeto de controvérsia até que, com o avanço da ciência, foi denunciado e declarada em 1953 como uma fraude, consistindo, na verdade, da mandíbula inferior de um símio combinada com o crânio de um homem moderno, totalmente desenvolvido. Segundo os relatórios, também foi utilizada uma lima para desgastar os dentes a fim de parecerem mais velhos, bem como os ossos (ou parte destes) foram submetidos a substâncias químicas com o mesmo objetivo. Foi sugerido que a fraude havia sido obra da pessoa tida como sua descobridora, Charles Dawson (1864-1916), sob cujo nome foi batizada. Este ponto de vista tem sido questionado e muitos outros candidatos têm sido propostos como os verdadeiros criadores da contrafação mas, o fato é que agora, cem anos depois que o público britânico ter sido enganado pela apresentação do mais famoso fóssil falso de todos os tempos, um grupo de cientistas quer descobrir, de uma vez por todas, os responsáveis pela fraude, alardeada na imprensa popular como “a fraude do século”.

Assim, como vimos, mesmo no seio das ciências empíricas, por vezes também chamadas de reais, fáticas ou factuais, que se encarregam de estudar os fatos e fenômenos naturais em si, colocando a aparte as questões sociais humana, as fraudes podem existir e permanecer por um certo tempo. Todavia, por se encontrarem apoiadas na observação e na experimentação, geralmente não implicam em considerações mais rigorosas quanto à unicidade e fronteiras da ciência, sendo o método científico facilmente compatível com a metodologia específica a cada uma das subáreas neste grupo, qualquer que seja a escolhida, e por tal seguido em essência e capaz de desmascaram as fraudes com relativa facilidade.

Já, com respeito as ciências sociais, estas estudam os aspectos sociais do mundo humano, ou seja, a vida social de indivíduos e grupos humanos. Isso inclui a antropologia, os estudos da comunicação, a economia, a geografia humana, a história, a linguística, as ciências políticas, a psicologia e a sociologia, e, embora o alvo de estudo delas seja um alvo científico legítimo, a metodologia específica empregadas por muitas subáreas de estudo encerradas neste grupo, muitas vezes exigem importantes considerações a respeito dos pilares da ciência, principalmente quanto ao associado às suas fronteiras. Ao se considerarem as ciências sociais não é raro encontrarem-se estudos no limite daquilo que se pode considerar científico. Em miúdos, as ciências sociais serão sempre mais polemicamente problemáticas e susceptíveis a fraudes e enganos do que as ciências naturais.

A boa coisa a se fazer é que o enfoque principal do trabalho do cientista social se auto regule, no sentido de se manter, sempre, a favor da promoção da emancipação humana, debaixo de um clima de respeito intersocial mas, desvendando com denodo as diversas formas efetivas de injustiça e de tirania social, e as reproduções de abusos e de opressão, seja de seres humanos contra seres humanos, ou seja de seres humanos contra a o restante da natureza. Os intelectuais das ciências sociais são os que mais devem zelar, não apenas pela sua autonomia, mas também pela responsabilidade social do produto das suas ideias. Uma fraude em ciências sociais costuma causar a humanidade um prejuízo incomparavelmente maior do que uma fraude em ciências naturais.

Para fazer frente a tal acréscimo de responsabilidade, o cientista social é aquele que mais deve dar atenção às tomadas de decisões para ações inovadoras que promovam o desenvolvimento da sua intelectualidade em inteligência, mesmo não esperando ser, em nada, ainda melhores remunerados por isso do que já são. Esta é uma dívida social que eles têm para com o todo da sociedade e, considerando ainda o fato que, em países importantes como o Brasil, os cientistas sociais já são muito mais valorizados e melhores pagos do que os cientistas naturais. Principalmente aqueles intelectuais cujo trabalho é de cunho predominantemente tecnológico são, de modo lamentável, muito pouco valorizados aqui no Brasil.

Assim, de modo algum os intelectuais devem agir como meros serviçais dos poderes instituídos, por mais que eles encontrem afinidade de pensamento com a corrente ideológica deste poder mas, sim, esforçar-se em manter um posicionamento de críticos desses poderes, mesmo quando elogiando-os mas, sem nunca permitir levar-se pela prostituição intelectual. Este é o papel do intelectual que supera os seus interesses imediatos e egoístas e passa a defender os interesses gerais da humanidade, que são também seus interesses, contribuindo, assim, com a emancipação humana.

É algo paradoxal que, na mesmo época em que tanto se valoriza a propriedade e o capital intelectual nas sociedades, seja também a mesma época em que se aventa a respeito da obsolescência da função do intelectual no mundo. Na modernidade o intelectual se encontra presente e funcional, porém, transformado evoluído, adaptado a realidade do seu tempo. No site oficial do ministério da cultura brasileiro, podemos encontrar a postagem de uma interessante crônica baseada em entrevista de autoria de Alexandre Matias, que é jornalista e editor do caderno Link do jornal O Estado de S. Paulo. Sob o título “Intelectual nerd ou nerd intelectual?” o autor, juntamente como o seu entrevistado (Steven Berlin Johnson é um escritor norte americano, autor de obras populares sobre de ciências e tecnologias), nos dá algumas pistas de como decorre esse processo de adaptação do Intelectual moderno e sua função.

O mais novo e promissor paradigma envolvendo a condição dos intelectuais, é o “empreendedorismo intelectual”. O empreendedorismo intelectual é uma filosofia e uma visão de educação de visualização de intelectuais, principalmente os acadêmicos, como "inovadores" e "agentes de mudança." Ele se concentra na criação de colaborações multidisciplinares e multi-institucionais destinadas a produzir avanços intelectuais, com uma capacidade para fornecer soluções reais para os problemas e necessidades da sociedade. Empreendedorismo é o envolvimento intelectual acadêmico com o objetivo de mudar a vida.

O empreendedorismo intelectual expande a missão das instituições de ensino superior de "avançar as fronteiras do conhecimento" e "preparar os líderes do amanhã" para também "servir como motores do desenvolvimento econômico e social". Nesse processo, o papel do docente e do aluno evolui de o de "provocador intelectual" para se tornar o que poderia ser chamado de um "empreendedor intelectual". Empreendedorismo intelectual inclui uma prontidão para buscar oportunidades, assumir a responsabilidade associada com cada um e tolerar a incerteza que vem com o início de uma inovação genuína. Empreendedorismo intelectual muda o modelo e o enfoque do ensino superior de "aprendizagem – certificação - direito" para "descoberta – propriedade - prestação de contas."

O empreendedorismo intelectual tem como premissa a crença de que tanto a inteligência não se limita à academia, quanto o e empreendedorismo não se restringe ou sinônimo de negócio. Empreendedorismo é um processo de inovação cultural. Embora a criação de riqueza material seja uma expressão de empreendedorismo, em um nível mais profundo do empreendedorismo, ele é uma atitude para envolver o mundo. Empreendedores intelectuais, quer de dentro quer de fora das universidades, assumem riscos e aproveitam as oportunidades, descobrem e criam conhecimento, inovam, colaboram e resolvem problemas em qualquer tipo de espaços social: empresarial, governo, sem fins lucrativos e educação.

Empreendedores intelectuais entendem que uma verdadeira colaboração entre as universidades e o público equivale a um incremento de "acesso" para os ativos intelectuais da academia. É mais do que "transferência de conhecimento", a exportação de soluções cuidadosamente embrulhados rolando fora do campus via uma correia transportadora definidamente direcionada. A colaboração neste novo paradigma exige humildade e respeito mútuo, a propriedade conjunta de aprendizagem e a cocriação de um potencial inimaginável para a inovação, qualidades que moverão as universidades, além do sentido típico elitista de "serviço". Quanto ao conceito de conhecimento, depois de tudo, envolve a integração de teoria, de prática, mas também de produção.

A iniciativa de empreendedorismo intelectual é defendida pelo professor Richard Cherwitz da Universidade do Texas, em Austin. No Brasil, recentemente, a Agência de Inovação Inova Unicamp lançou o programa Inova Descobre, para fomentar iniciativas empreendedoras de estudantes de graduação e pós-graduação da universidade brasileira.

Apesar de ser um grande prazer ouvir falar em iniciativas como estas, eu não consigo evitar pensar numa eventual ocorrência de relativização dos seus possíveis resultados. Acontece que, tanto o empreendedorismo, quanto o intelectualismo, nomes que veiculam um conjunto variado de sentidos, são vocações, dons e talentos naturais. Não se pode criar um empreendedor a partir de alguém que não tenha esse talento, nem se pode criar um intelectual, a partir de alguém que não tenha vocação para isso. Todavia, ambos podem ser desenvolvidos ou aprimorados, desde que se tenha o dote da vocação, o dom e talento natural, capacitação que transcende ao produto da educação.

Nos idos da década 1920, o filósofo, cientista social e político italiano Antonio Gramsci, criou a definição daquilo que deveria ser o “intelectual orgânico”. Segundo a definição gramsciana, enquanto o intelectual tradicional é aquele que se vincula a um determinado grupo social, instituição ou corporação e que expressa os interesses particulares compartilhados pelos seus membros, o intelectual orgânico seria aquele que provém, originalmente, de uma determinada classe social, e que se manteria vinculado a ela por tempo indeterminado, atuando como porta-voz da ideologia e dos interesse daquela mesma classe social. Na visão de Gramsci, tal intelectual seria o responsável maior pela nova forma do Estado e da sociedade. Para isso a classe operaria, que deveria ser aquela que encabeçaria as mudanças sociais, precisaria produzir os seus intelectuais orgânicos, que atuariam como "funcionários da superestrutura", terminando por moldar o mundo à imagem e semelhança da sua classe fundamental.

Na visão de Gramsci, a luta da classe operária seria no sentido de afirmar esse novo intelectual, e apoiá-los em seu confronto por hegemonia e captura frente aos pré existentes intelectuais tradicionais. Mas, o fato é que, até o presente momento, em nenhuma sociedade humana conhecida, verificou-se que as classes operárias produziram, de modo natural e espontâneo, intelectuais orgânicos de modo que caracterizasse a formação do Estado revolucionário idealizado por Gramsci, nem é correto identificá-los com atuais intelectuais dos partidos de esquerda ou aos seus militantes.

Todavia, numa avaliação em paralelo com relação a moderna concepção do intelectual empreendedor, podemos constatar um mérito desta ideologia, na medida em que ela foi a primeira a definir que este novo tipo de intelectual (no caso o intelectual orgânico) não seria mais afastado do mundo produtivo ou encharcado de retórica abstrata, mas capaz de ser, simultaneamente, especialista, político e dirigente, dentro da sua própria classe.

Assim, pelos mesmos motivos que o intelectual orgânico nunca vingou naturalmente, programas de empreendedorismo intelectual só poderão ter sucesso em desenvolver e aperfeiçoar vocações, dons e talentos naturais pré existentes.

“Tão boa é a sabedoria como a herança, e dela tiram proveito os que vêm o sol. Porque a sabedoria serve de defesa, como de defesa serve o dinheiro; mas a excelência do conhecimento é que a sabedoria dá vida ao seu possuidor.” Eclesiastes 7:11-12, sobre inteligência espiritual.
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Este trabalho de André Luis Lenz, foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - CompartilhaIgual 3.0 Não Adaptada.
 
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