terça-feira, 31 de julho de 2012

Pais e Filhos Diante do Senhor Deus

Já idoso, o profeta Samuel designou seus filhos Abias e Joel para serem juízes de Israel. Estes se instalam na cidade de Berseba, a partir da qual executam a seus julgamentos.

É notório que, por toda sua vida, Samuel sempre foi um profeta escolhido diretamente por Jeová, ao qual se manteve constantemente fiel. Além de profeta, Samuel acumulava também a posição de juiz do povo e foi, essa posição de juiz que ele delegou aos seus filho. Todavia, os seus filhos, não atingiram refletir o caráter piedoso de seu pai.

Não existe menção no relato bíblico de com qual base Samuel concluiu que seus próprios filhos deveriam herdar a sua posição de juiz do povo. Não existe menção de uma consulta direta a Jeová sobre essa designação.  Mas a ligação de Samuel com Deus era tal que lhe dava a autoridade para fazer tal deliberação. Todavia, talvez tenha havido ai alguma falha de julgamento da parte de Samuel que, mesmo com toda a unção recebida, continuava sendo apenas um homem.

Na medida em que Samuel envelhecia, o povo desenvolvia falta de confiança quanto ao seu futuro pois, não tinham confiança nos seus filhos. Foram as ações dos irmãos Abias e Joel que proporcionaram à nação de Israel o pretexto para a solicitação de um rei para governá-los, uma vez que os filhos de Samuel, não muito diferentes dos filhos de Eli, passaram a se mostrar despreparados pois, se corrompiam por aceitar subornos, pervertendo julgamentos e extorquiam.

Revoltados com essas atitudes de seus novos juízes, os israelitas passaram a exigir do profeta Samuel um rei para a nação, a fim de que Israel “fosse igual às outras nações da terra” (1Sm 8.1-5; 1Cr 6.28).

Com essa atitude a nação de Israel também errava. Ela não exigia tão somente a correção ou a desqualificação e substituição de seus juízes iníquos. Ela pedia para ser "igual às outras nações da terra”, ou seja, ela pedia o fim da teocracia e pedia para ser nivelada, em termos de sistema administrativo, ao mesmo nível das "das nações, que o Senhor expulsara de diante deles".

Assim, os israelitas insistiam com Samuel, que ainda era o profeta na época, porquanto seus filhos eram delegados apenas como juízes, para que solicitasse a Deus que lhes concedesse um rei. Contrariado, por entender que a nação o estava rejeitando a ele como profeta, Samuel intercedeu por Israel, em oração, apresentando a Deus o pedido da nação.

Porém, Jeová se aborreceu com isso e confortou o profeta, informando que não era ele quem estava sendo rejeitado, mas ELE, o próprio Deus, é que estava sendo rejeitado como Pai dirigente da nação. Assim, autorizou à nação que escolhesse aquele que seria o seu rei, entre todos os filhos das doze tribos israelitas e assim, Jeová permitiu que sucedesse conforme eles próprios pediam.

Desta forma, a escolha recaiu sobre Saul, a quem Deus mandou que Samuel ungisse, consagrasse e coroasse como rei de Israel, conforme era o desejo expresso pelos próprios principais da nação. Mas nem por isso deixou Saul ser ser também um escolhido e ungido de Deus e foram com ele homens de valor, aqueles cujo coração Deus tocara e o próprio Espirito do Senhor andava com ele.

Então disse Samuel a todo o Israel: Eis que vos dei ouvidos em tudo quanto me dissestes, e constituí sobre vós um rei. Agora, eis que o rei vai adiante de vós; quanto a mim, já sou velho e encanecido, e meus filhos estão convosco: eu tenho andado adiante de vós desde a minha mocidade até o dia de hoje. 1Sm 12:1-2

Agora, eis o rei que escolhestes e que pedistes; eis que o Senhor tem posto sobre vós um rei. Se temerdes ao Senhor, e o servirdes, e derdes ouvidos à sua voz, e não fordes rebeldes às suas ordens, e se tanto vós como o rei que reina sobre vós seguirdes o Senhor vosso Deus, bem está; 1Sm 12:13-14

Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor; e ele converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais; para que eu não venha, e fira a terra com maldição. Ml 4:5-6.

Feliz dia dos Pais!

terça-feira, 10 de julho de 2012

Ontem, hoje e sempre! Tem que valer a pena ser honesto!

A DESONESTIDADE deriva de um qualificativo humano que existe desde o jardim do Éden. Para conseguir atrair o primeiro casal humano para a sua rebelião, Satanás teve que ser desonesto e dizer algumas mentiras, fazendo propaganda enganosa, sobre aquilo que antes, o próprio Jeová Deus já havia ensinado ao homem sobre a verdade.

Naquela ocasião, quem é crente sabe, a desonestidade obteve exito em atingir o seu primeiro intento no seio da humanidade, fez a humanidade cair e ela própria (a desonestidade) passou a ser um atributo humano comum, coexistindo, de maneira danosa, até os dias de hoje, no meio de nós.

Os efeitos nocivos da desonestidade e da malandragem astuta são de tal maneira tão fragorosos aos seres humanos que, mesmo que a humanidade esteja vivendo entremeada com este atributos desde tão cedo, as deturpadas culturas e sociedades humanas, pelo menos de modo oficial ou público, ainda dá valor à honestidade e encara a mentira, falsidade e o furto como indesejáveis e repreensíveis.

Internamente e em oculto, em tudo o que é humano, existe um grande conflito: Para a maioria das pessoas comuns, poder ser considerado honesta e digna de confiança ainda é algo de que se orgulhar.

Todavia, no âmago das consciências individuais, e na surdina das combinações coletivas, de modo lamentável, porém profeticamente esperado em função do tempo em que vivemos, cada vez mais, acredita-se que, estar aberto a "um pouco" de desonestidade é indispensável para se sobreviver na sociedade moderna.

O que você acha disso? Vale a pena ser honesto? Qual o seu critério para decidir que conduta é honesta e qual não é?

Para agradar a Deus devemos ser honestos, tanto em nossas conversas como, e principalmente, em nosso modo de vida. O apóstolo Paulo aconselhou seus irmãos na fé: “Falai a verdade, cada um de vós com o seu próximo.” (Efésios 4:25) Ele escreveu também: “Queremos comportar-nos honestamente em todas as coisas.” (Hebreus 13:18).

De modo que, a principal motivação de sermos honestos não porque queremos receber elogios de outros humanos, ou mesmo porque esperaremos honestidade da parte dois outros para conosco, mas devemos sê-lo, antes de tudo, porque respeitamos ao nosso Criador, e queremos agradá-lo e tão somente.

Se alguém buscar ser honesto apenas na medida em que os demais que o cercam são honestos com ele, não encontrará, de fato, motivação verdadeira para ser honesto e, eu creio, pois assim tenho aprendido de Deus por toda a minha vida, que isso vale para todas as áreas em que me relaciono.

Fácil ser assim? De modo algum, é deverás dificílimo! E eu mesmo vos confesso os meus inúmeros fracassos em tentar sê-lo, mas eu não posso vir aqui e vos falar de maneira diferente dessa que que vos falo agora, pois isso tornaria a minha própria situação, ainda pior.

Antigamente, eu considerava a questão da honestidade, apenas como algo social, mas hoje eu sei que não é, que vai muito além, trata-se de estar ou ligado a videira verdadeira que é Jesus. Quando eu considerava apenas como questão social, eu me apegava demasiadamente a detalhes menores e curiosos.

Durante quase vinte anos eu trabalhei como educador em grande instituição de ensino técnico frequentada diariamente por centenas de alunos. Como não podia deixar de ser, ocorria com certa frequência de alunos (em geral jovens de 14 a 18 anos) esquecem objetos e pertences pessoais nas salas de aulas e laboratórios.

Como trabalhávamos as turmas de alunos em dupla de educadores, eu sempre discutia com meu parceiro a forma como devíamos lidar com tais objetos: meus colegas sempre acordavam que eles deviam ser recolhidos e guardados, para depois ser devolvidos, mas como não havia sistema de trabalho um processo específico para lidar com achados e perdidos, eu acreditava que tais objetos nem deveriam ser tocados, mas sim deixados no mesmo local em que se encontravam (desde que não estivessem causando impedimento às atividades).

Eu acreditava que, se todos pensassem assim, apenas o legítimo proprietário removeria dali o seu próprio pertence, ao se lembrar e procurar por ele e tudo estaria em paz. Eu gostava de fazer assim pois, inúmeras vezes que eu cedi a orientação dos meus colegas de trabalho, e recolhia e guardava um objeto abandonado ou esquecido, que não me pertencia e ocorria que muitas semanas, ou mesmo até meses, se passavam sem que ninguém o procurasse comigo, ou mesmo que eu me lembrasse dele e saísse a caça do desleixado proprietário.

O fato é que, nas atividades do nosso dia a dia naquela instituição, aquela não era a minha atribuição, e daquilo que era a minha atribuição, o meu dia já era cheio, de modo que, até hoje eu ainda não sei dizer, ao certo, se o correto era recolher, como faziam meus colegas ou deixar aonde estava, como eu mesmo preferia fazer. Pode parecer uma visão tola e utópico, mas eu olho mesmo o mundo, como extensão da minha própria casa, e sinto que é natural que eu não tome o que é de outro e que outro não tome o que é meu, estejam tais coisas onde estiverem.

De qualquer modo, existia ali, da parte de todos, a preocupação de ser honesto e não se sentir autorizado a sair tomando posse do que não nos pertencia e isso me fazia sentir como quem trabalha em algo que me tornava abençoado e que a fonte de bençãos era Aquele que a tudo vê, por mais que se busque ocultar.

De lá para cá, as circunstâncias sociais e culturais, notadamente aqui no Brasil, se degradaram e os padrões morais, aos poucos, parecem que vão desaparecendo. O crime e desonestidade parecem moda e já nem chocam mais. Isso é triste, mas é evidente, no entanto é também natural, para quem conhece as escrituras e crê que tudo que está profetizado ali, ocorrerá de fato, a seu tempo.

Está muito mais difícil, hoje em dia, para mim, encontrar um local onde eu possa estar ou trabalhar, que me faça sentir abençoado como eu me sentia outrora. Até mesmo no meio de uma congregação de cristãos, hoje em dia, eu fico impressionado, e confesso, até mesmo revoltado, com a facilidade que se aceita a desonestidade. Chegasse ao cúmulo de se considerar uma benção, encontrar e não devolver, algo de valor que não nos pertença. Doí demais ouvir isso, até mesmo em pregações de ministros da Palavra. A única coisa que dá alento pessoal, é realmente saber que isso tudo se trata, DO TEMPO que se trata, o qual a palavra de Deus predisse, desde longa data.

Eu agradeço a Deus o fato de eu continuar não desejando tomar de outro aquilo que não me pertence, por desonestidade mas, eu como ser humano, continuo pecador, e posso hoje mesmo estar preso a algum tipo de pecado ou buscando simplesmente ocultar conduta imprópria do meu passado por temer que isso me desqualifique na congregação.

Todavia, neste ponto, ser totalmente honesto implica também em buscar ajuda, com um presbítero ou ancião cristão, confessando o meu pecado a fim de receber ajuda para restabelecer a minha preciosa relação com Deus.

Sim, devemos confessar os nossos pecados às pessoas que podem nos ajudar. Quando um certo Simão reconheceu seu erro, ele pediu as orações de Pedro: "Rogai vós por mim ao Senhor, para que nada do que haveis dito venha sobre mim. (Atos 8:24b). Tiago disse: "Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo" (Tiago 5:16).

Bíblia diz ainda: “Não deprecies a disciplina da parte de Jeová, nem desfaleças quando és corrigido por ele; pois Jeová disciplina aquele a quem ama.” — Hebreus 12:5, 6.

Mas como eu poderei encontrar facilidade em me confessar com um irmão, cujas próprias palavras diante da congregação o condenam, e fazem estimular o coração do simplório a cobiça e ao desejo desonesto? Não seria isso como que atirar pérolas aos porcos?!? Por isso o meu próprio coração se angustia até a morte e a minha alma anda cheia de revolta.

“O justo está andando na sua integridade”, diz Provérbios 20:7. Uma pessoa honesta é uma pessoa de integridade. Ela nunca trapaceia ou engana os outros. Não é assim que você quer que outros o tratem? A honestidade é parte essencial da verdadeira adoração a Deus e expressão do nosso amor a Ele. Por sermos honestos, mostramos nosso desejo de seguir o princípio de conduta expresso por Jesus: “Todas as coisas, portanto, que quereis que os homens vos façam, vós também tendes de fazer do mesmo modo a eles.” — Mateus 7:12; 22:36-39.

Nem mesmo o tal do "ladrão que rouba um ladão" terá os tais propagados "cem anos de perdão". Essa é apenas mais uma falácia diabólica da nossa vã cultura, que quando não é plenamente inútil, vai ainda além, e destrói almas preciosas. “É melhor ser pobre e honesto do que mentiroso e tolo.” Pv.19:1. E ser mentiroso para com as coisas referentes ao Reino de Deus é algo terrível.

Ser honesto em todas as ocasiões pode ter seu preço, mas a consciência limpa que resulta disso vale muito mais do que qualquer custo envolvido. No final das contas, ser honesto e justo traz a maior das recompensas, a qual não tem preço: a boa relação com Jeová. Por que arruinar essa relação valendo-se da desonestidade só para salvar as aparências ou obter alguma vantagem ilegal? Seja qual for o desafio que tenhamos de enfrentar, podemos confiar nas palavras do salmista: “Bem-aventurado o homem que faz do Senhor a sua confiança, e que não atenta para os soberbos nem para os apóstatas mentirosos.” — Salmo 40:4. 

Que o Senhor tenha misericórdia de mim, pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Vidraça Exposta (ISTOÉ: Edição: 1794 - 25.Fev.04 - 10:00 - Atualizado em 01.Jul.12 - 00:57)

A Vidraça Exposta e a Memória do Elefante

Em 2004, segundo ano do primeiro governo Lula, eclodiu um escândalo que ameaçou o então todo-poderoso ministro José Dirceu. Seu principal assessor, Waldomiro Diniz, havia sido gravado pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira, pedindo propina para ajudar na liberação dos bingos. Naquele episódio, pela primeira vez, manchou-se a imagem do PT, que, depois, viria a ser arranhada por uma série de escândalos – o principal deles, o Mensalão. Diferente do que ocorreu com relação a oportunidade até hoje, ainda, desperdiçada, com o "término em pizza" da CPI do Banestado, recentemente, oito anos depois da "queda" de José Dirceu, Carlinhos Cachoeira foi, enfim, preso pela Polícia Federal. Por que tanta demora? Eu só sei que no intermeio desses 8 anos, quem perdeu foi o Brasil.

A GThec, a mais poderosa organização voltada para o jogo dos Estados Unidos chegou ao Brasil comprando a Racimec, uma empresa curitibana que prestava serviços à Caixa, relativos aos Jogos de Loterias - CEF. Não muito tempo depois, a GThec (via Racimec) passou a dominar todo o serviço de Loterias da Caixa Econômica Federal. O conselho de administração da Racimec era integrado por José Richa (ex-governador do Paraná), Karlos Rischibieter (ex-ministro da Fazenda), Carlos Alberto Vieira, Simão Brayer e Antônio Carlos Lino da Rocua. A GThec administra um negócio de 1.5 bilhão de dólares e, cerca de 15% desse montante (225 milhões de dólares), provém exclusivamente do Brasil.

André Luis Lenz

Traição de Waldomiro Diniz e as suspeitas de que assessor continuou ativo no governo pegam PT de surpresa e crise política revela ao partido o ônus de ser governo.

Luiz Cláudio Cunha e Ugo Braga

Em julho do ano passado, quando ISTOÉ revelou pela primeira vez as relações comprometedoras de Waldomiro Diniz com expoentes do jogo legal e ilegal, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, perdeu a fleuma. Em pleno domingo, entrou em contato com o amigo e assessor e cobrou explicações. Waldomiro, que já conhecia o conteúdo da reportagem, negou que tivesse relações com bicheiros e contraventores eletrônicos e disse que na manhã seguinte iria desmentir a reportagem. O ministro achou que o desmentido seria uma reação tímida demais para o tamanho da denúncia e exigiu que o assessor tomasse medidas mais consistentes. Na sexta-feira 4 de julho, Waldomiro disparou ofícios ao procurador-geral da República, Cláudio Fontelles, ao corregedor da União, Waldir Pires, e ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, pedindo de próprio punho para que fossem investigadas as denúncias feitas por ISTOÉ. Cópia dos ofícios chegou a ser entregue ao presidente Lula por Dirceu, que demonstrou surpresa com as acusações feitas ao seu subordinado. Para convencer o ministro de que nada tinha a temer, Waldomiro chegou a pedir por escrito a punição dos repórteres e a colocar à disposição das investigações os seus sigilos bancário e telefônico. Foi tudo jogo de cena. Na verdade, desde a terça-feira 1º de julho do ano passado, três dias antes de encaminhar os ofícios se colocando na posição de vítima, Waldomiro já tinha pleno conhecimento de que suas tramóias estavam registradas em fita de vídeo. Sabia também que o autor da gravação fora o bicheiro Carlinhos Cachoeira. O pedido de investigação feito ao Ministério Público federal ficou parado na Polícia Federal. O que Waldomiro não contava é que a fita gravada pelo bicheiro, em que ele é flagrado pedindo propina, se tornaria pública.

Mas essa não foi a única mentira de Waldomiro Diniz. Seu talento de operador político – já demonstrado na campanha eleitoral de 2002 – continuou sendo exercido em favor de interesses pouco ortodoxos. Depois de operar na Loterj para obter recursos financeiros para as então candidatas Rosinha Matheus e Benedita da Silva, Waldomiro continuou gastando doses cavalares de energia nos bastidores do governo Lula, sempre em assuntos de interesse dos contraventores. A sua atuação explodiu como bomba no colo do governo Lula e deixou o ministro Dirceu no alvo de um furacão. A inexperiência de ser governo fez com que a sangria não fosse estancada imediatamente, tomando proporções gigantescas, inflando a oposição e transformando a gestão do PT numa grande vidraça. A traição de Waldomiro por pouco não ceifou a esperança. Desolado, o ministro pediu desculpas aos companheiros da base do governo, durante jantar na casa do presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), na noite de quarta-feira 18. Dirceu comentou que não sabia que as ações de seu subordinado tinham sido “tão criminosas e irresponsáveis”. “Queria pedir desculpas ao Brasil, mas o presidente Lula pediu que eu não fizesse isso agora”, teria afirmado o ministro, de acordo com um dos participantes do jantar.

Entre 1º de janeiro de 2003, quando foi nomeado assessor e ganhou uma sala no quarto andar do Planalto, e 14 de fevereiro, data de sua exoneração, Waldomiro participou de várias reuniões com os bicheiros, sempre tratando da regulamentação dos bingos. Há detalhes surpreendentes desses encontros. O primeiro deles aconteceu apenas cinco dias depois de o PT chegar ao poder. A atuação de Waldomiro em prol dos bicheiros nos últimos 15 meses envolve a empresa Gtech, multinacional americana responsável pelo sistema de informática das loterias da Caixa Econômica Federal. Essa empresa registra e vende as apostas, transmite, consolida e processa os dados. Presta o serviço desde 1994. Em 2000, no entanto, a direção da Caixa resolveu montar um departamento próprio para fazer o trabalho. Queria se ver um pouco menos prisioneira da Gtech. Para brecar os planos, a multinacional entrou na Justiça. O imbróglio corre até hoje.

O escândalo começa a tomar forma de maremoto quando Carlinhos Cachoeira entra no assunto. Cachoeira pertence à nova geração de bicheiros. Seu maior feito no ramo foi erguer a plataforma de controle online de apostas. Conseguiu emplacar seu produto em Goiás na década de 90. Depois, ungido pelo sucesso, espalhou-se por Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e Rio de Janeiro. Guardada a devida proporção, fazia nos Estados o que a Gtech fazia no plano nacional. Carlos Cachoeira prefere ver o jogo regulado por um sistema online de controle das apostas. A arrecadação se daria sobre o apurado total – metade para a União, operada pela gigante Gtech, metade para os Estados, operada por ele mesmo.

Na moita – Para viabilizar seu plano, Cachoeira telefonou à Gtech. Falou com o então presidente da empresa, Antônio Carlos Lino da Rocha. Disse-lhe ter meios de influir no projeto de regulamentação dos bingos. Era fim de 2002. Combinaram uma data e marcaram a reunião. No dia 5 de janeiro de 2003, Lino da Rocha hospedou-se no Blue Tree Park, hotel cinco estrelas de Brasília, vizinho ao Palácio da Alvorada. Junto com ele estava Marcelo Rovai, então diretor da Gtech. Na manhã seguinte encontrariam Cachoeira e seu contato no novo governo. No dia 6 de janeiro, terça-feira, o bicheiro foi ao Blue Tree acompanhado do recém-empossado subchefe da Casa Civil, Waldomiro Diniz, seu velho conhecido do Rio. “Quando chegamos, o José Genoino estava saindo do hotel. O Waldomiro se escondeu atrás de um vaso de planta para ele não nos ver”, contou Cachoeira ao Ministério Público. No encontro, além de abençoar a estratégia conjunta da Gtech com Cachoeira, Diniz se comprometeu a atuar para renovar o contrato com a Caixa. Apertaram as mãos e despediram-se. Foi a última vez que o quarteto se encontrou. Dias depois o bicheiro viajou com a família para o Exterior, em férias.

No dia 13 de fevereiro, Lino da Rocha e Rovai voaram a Brasília. Encontraram-se de novo com Waldomiro. O trio voltou ao Blue Tree no dia 31 de março. Desta vez, a fatura do hotel foi paga com o cartão de crédito corporativo da Gtech. Outro encontro entre os três ocorreu no dia 3 de junho. Foi quando Cachoeira, recebeu um telefonema de um terceiro diretor da Gtech, que lhe contou pormenores da negociação com o assessor do ministro José Dirceu. Descartado do grupo, o bicheiro ficou fulo. Chamou Waldomiro e o esculachou. Soube que repórteres da ISTOÉ investigavam as relações perigosas dos jogos eletrônicos e bicheiros.

Em 8 de abril – época em que Diniz e diretores da Gtech se confraternizavam sem a presença de Cachoeira – saiu a renovação do contrato com a CEF. Pelo novo acerto, o banco e a multinacional aceitaram permanecer abraçados por mais 25 meses. A empresa deu 15% de desconto à Caixa. Um de seus diretores afirma que tal solução custou um pedágio de R$ 10 milhões em propinas. Antônio Carlos Lino da Rocha e Marcelo Rovai deixaram a Gtech seis meses depois. O banco estatal nega qualquer irregularidade. Afirma que a renovação foi acompanhada passo a passo pela procuradora da República Raquel Branquinho. Ela diz não ter nada com o assunto.

Reincidente – Tentando minimizar os estragos, o Planalto anunciou, na quarta-feira 18, a criação de uma comissão de sindicância para apurar a atuação de Waldomiro dentro do governo, com prazo de 30 dias para apresentar conclusões preliminares. O próprio líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), já admitia a hipótese – negada no início – de que Waldomiro possa ter exercido tráfico de influência durante a sua permanência na Casa Civil. “É possível que (Waldomiro) tenha usado o cargo para favorecer alguém, mas ele não tinha poder de decisão. Não lidava com orçamento, não tinha verba”, afirmou Mercadante. Apreensivos com a sorte do ministro Dirceu, a quem Waldomiro respondia, um grupo de parlamentares imaginava ter encontrado a bóia de salvação do chefe da Casa Civil: a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Encarregada de investigar a ficha de todo candidato a cargo de confiança no governo, a Abin seria apontada como responsável pelo deslize de acomodar Waldomiro num gabinete privilegiado do quarto andar do Palácio do Planalto. A agência não teria soado o alarme. “É, isso faz sentido”, admitiu Dirceu a um deputado aliado, na terça-feira.

O negócio é que existem sólidas evidências de que o personagem Waldomiro Diniz era bem conhecido pela Abin. Em dezembro de 2002, dias antes da nomeação, chegou à agência o pedido protocolar de LDB (Levantamento de Dados Biográficos) de Waldomiro Diniz. A Abin trabalhou direitinho: alertou que “havia indícios de envolvimento com a máfia dos bingos no Rio, quando presidia a Loterj”. A LDB saiu do Cedoc e voltou, dias depois, com “ordens superiores”: “Nós avaliamos fatos e pessoas, não indícios”, teria dito a diretora-geral da Abin, Marisa Diniz. Exterminaram os indícios e sobraram apenas dados burocráticos. Waldomiro pôde tomar posse do cargo sem sobressaltos.

Desde então, a Abin sabia que não era saudável levantar certos fatos da vida de Waldomiro. Tanto que, na sexta-feira em que explodiu o escândalo, o diretor do Cedoc, David Bernardes, recebeu um telefonema de manhã cedo: “E aí, tudo bem? Estamos cobertos?”, perguntava, com certa preocupação, seu superior na Abin, José Irigaray, secretário-executivo de Planejamento. A salva de artilharia que se prepara no Planalto deve mirar a diretora Marisa Diniz, na agência desde dezembro de 2000. Agora, o Planalto vai tentar dizer que dona Marisa da Abin “lavou” a LDB de Waldomiro e induziu o governo ao erro fatal.

Barra pesada - Waldomiro Diniz já vem sendo investigado pela polícia americana desde a década de 90 por suas ligações com a exploração de jogos eletrônicos. A inteligência militar soube da investigação americana antes de Waldomiro assumir a Loterj. Segundo um documento da Interpol, à frente da Loterj, ele foi considerado uma peça-chave do esquema internacional de lavagem. Em outro documento de 2001, em poder da PF, são colocadas restrições sobre suas atividades: “Um homem influente no meio político, capaz de garantir financiamento de campanhas eleitorais, mas que exerce atividades suspeitas.” De acordo com um policial que investigou o crime organizado, ele foi um dos responsáveis pela expansão dos bingos no Rio. Citando um relatório dos americanos, o mesmo policial disse que boa parte do dinheiro das campanhas a partir de 1990 saiu do contrabando de máquinas para jogos eletrônicos.

Hélio Contreiras

Demissão abre crise na Cultura - Um pedido de demissão coletivo na quarta-feira 18 deixou explícito um racha que havia no Ministério da Cultura. O estopim foi a exoneração de Roberto Pinho, que era secretário de Desenvolvimento de Programas e Projetos Culturais do Ministério, na segunda-feira 16. Numa só portaria, o ministro Gilberto Gil demitiu o seu guru político, amigo e compadre e acabou com uma amizade de 40 anos, alegando que Pinho o induziu a assinar um contrato irregular entre o governo e o Instituto Brasil Cultural (Ibrac), que iria executar a construção de 16 Bases de Apoio à Cultura em regiões carentes. O contrato de R$ 24 milhões financiados pela Petrobras foi cancelado depois que uma auditoria detectou irregularidades na escolha do Ibrac e da empresa MC Consultoria e Assessoria Empresarial. “O meu compromisso é com a política cultural, está acima das amizades”, avisou Gil.

A exoneração de Pinho esfacelou uma coesa turma de amigos baianos que atuava junto desde a década de 60 na militância cultural e política, da qual faziam parte o secretário executivo Juca Ferreira e o antropólogo e compositor Antônio Risério. Todos trabalharam juntos em 1988 quando Gil foi secretário de Cultura de Salvador. Risério pediu demissão em solidariedade a Pinho e levou com ele o coordenador do programa de recuperação de monumentos, Marcelo Ferraz, e a presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Maria Elisa Costa. A carta, assinada pelos três, diz que a saída de Pinho resultou de “disputa de poder e intrigas”, trazendo o racha à tona: de um lado a turma de Roberto Pinho e do outro a de Juca Ferreira. Gil, que elogiou a atuação dos ex-funcionários, disse que já esperava essa reação. Agora, acredita, acabou a dicotomia em sua equipe.

Leonel Rocha

Bispo Rodrigues é afastado da Universal - O deputado federal bispo Rodrigues (PL-RJ) tornou-se a mais nova vítima de Waldomiro Diniz. Na madrugada da quinta-feira 19, Rodrigues foi destituído da função de líder da bancada da Igreja Universal na Câmara por decisão do próprio chefe da igreja, Edir Macedo. O crime do bispo foi ter recebido ajuda financeira de Waldomiro quando ele era presidente da Loterj em 2001 e 2002. O dinheiro foi utilizado para construir mais um templo da Universal no Rio de Janeiro. Macedo demitiu Rodrigues através de seu programa de tevê Fala que eu te escuto, destinado aos fiéis da Universal. Segundo Edir Macedo, “não vamos tolerar que os parlamentares que se elegeram com nosso apoio se tornem corruptos”. E aproveitou para alertar seu rebanho dizendo ainda que “os membros da nossa igreja não podem cair na tentação da corrupção na política”. 

Eduardo Hollanda

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UM ELEFANTE JAMAIS SE ESQUECE!
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Este trabalho de André Luis Lenz, foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - CompartilhaIgual 3.0 Não Adaptada.
 
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