segunda-feira, 18 de junho de 2012

Confundidos entre Homens e Árvores


Tendo chegado a Betsaida, trouxeram à presença de Jesus um homem cego, um homem que não enxergava nada e que estava em trevas. Para ele não existia a luz, e como cego, andava sem rumo, sem direção, não sabendo por onde ia, por isso foram outros que lhe trouxeram. (Mc 8:22 em diante).

Isto se assemelha à vida de cada um de nós, antes de termos um primeiro encontro de fé com Jesus. Andamos como gente sem direção e que não pode responder a todas as quatro perguntas básicas da vida: De onde vim? Quem sou? Por que estou aqui? Em fim, para onde vou?

Aquele homem cego não procurou a Jesus por si próprio, alguém o conduziu, intercedeu, rogou por ele e o aproximou de Jesus. Provavelmente quem lhe conduziu havia lhe informado, antes, a respeito de Jesus e ele creu o suficiente pois se deixou guiar. E Jesus leva o homem para fora da aldeia; coloca suas mãos sobre a cabeça dele, unge-lhe os olhos com saliva, e pergunta: “Vês alguma coisa?”

Abrindo os olhos, o homem responde: “Vejo os homens, porque como árvores os vejo, andando”. A esta resposta Jesus conclui que ainda havia alguma coisa errada com aquele homem pois ele estava, então, a confundir homens com árvores! Ele já podia ver, mas algo ainda não estava no devido lugar.

Isto equivale ao seguinte: Ter um primeiro encontro de fé com Jesus, o seu toque propicia ao homem perdido uma primeira cura, uma primeira unção que é o começo de tudo, o princípio da conversão. A sujeira é removida e a casa é limpa.

O homem estava antes em trevas e Jesus curou os seus olhos. A primeira cura foi a dos olhos, do globo ocular, dos veículos condutores da luz. Jesus tocou e seus olhos abriram. A escuridão do homem se dissipou e a luz o invadiu.

Primeiramente, Jesus recupera aquilo que pode conduzir luz para a minha alma. Mas tolo eu serei se me contentar apenas com isso. Talvez seja melhor nem sequer passar a ver, do que tão somente passar a ver, mas ainda assim, ver as coisas de uma maneira distorcida.

Ele recebeu luz e, assim, já não estava mais nas trevas. Já vê alguma coisa. Mas, diante das palavras do homem, que de fato soam como uma queixa, como uma autocrítica de quem sabe que precisa ir além: “Vejo os homens, porque como árvores os vejo andando”.

A misericórdia de Jesus não poderia deixá-lo assim, naquela condição intermediária, e a obra tinha que ser então completa. Jesus concluiu que ele carecia de um segundo toque. De uma segunda unção. A resposta do homem era um sincero pedido de socorro. Ele ainda não se sentia curado. Sabia, mesmo, que não estava plenamente curado, mas mesmo assim, se queijando, ele continuou tendo fé de que poderia ser completada a obra (senão, nem se queixaria, diante da pergunta feita por Jesus).

Apesar de já ter luz, ainda não enxerga direito. Ainda confundia coisa com coisa, confundia homem com coisa, confundia homem com árvore. Alguma coisa está errada! Precisa de um segundo toque de Jesus. Precisa de uma porção dobrada do Espírito. Da primeira vez, Jesus curou os olhos. Da segunda, Ele curará a mente toda.

Jesus demonstrou a sua plena compreensão da nossa miserável condição espiritual humana quando explicou: “Ora, havendo o espírito imundo saído do homem, anda por lugares áridos, buscando repouso, e não o encontra. Então diz: Voltarei para minha casa, donde saí. E, chegando, acha-a desocupada, varrida e adornada. Então vai e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele e, entretanto, habitam ali; e o último estado desse homem vem a ser pior do que o primeiro.” Mt 12:43-44,45a

Por isso Jesus torna a colocar as mãos nos olhos do cego e o homem ficou curado.

Primeiro os olhos se lhe tornaram perfeitos e já podiam captar a luz, mas o cérebro continuava desorganizado e não podia decodificar corretamente a informação do que entra pelos olhos. E Jesus, então, curou a mente daquele homem para que ele não apenas visse, mas compreendesse corretamente a visão.

Esta segunda cura, Jesus pode e quer fazer na vida de muitos cristãos, ainda nos dias de hoje, inclusive em mim mesmo.

Quem trabalha no mundo secular na área de tecnologia de automação de máquinas como eu, sabe muito bem que num projeto que envolve “visão artificial” a parte mais fácil do projeto é especificar , adquirir e ligar um sensor de visão a um tipo de controlador programável, mas a parte realmente complicada desse projeto é aquela que envolve desenvolver um programa, que permita a esse mesmo controlador, realizar corretamente a gestão de todo um processo, em função da informação relativa a “imagem” que é captada.

A segunda unção é algo mais grandiosa do que a primeira. A partir do momento que o homem ainda cego é tomado pelas mãos por Jesus e conduzido para fora do cenário em que ele se encontrava, ele já se tornava “um escolhido”, mas para algo ainda limitado.

Jesus me pergunta agora: “André, vês alguma coisa?”

Se eu responder: “Sim vejo, eu estou vendo! Eu estou curado!” Jesus ficará satisfeito com a minha resposta, considerando que isso me basta, pois eu mesmo o estarei afirmando.

Mas se de fato eu ainda vejo “homens como árvores”, então a minha resposta foi no mínimo precipitada. Talvez eu tenha respondido assim por ignorância, talvez por desonestidade mesmo mas, em ambos os casos, a resposta foi errada.

Com aquela resposta eu abri mão da magnífica oportunidade de ter a minha benção completa, de ter a minha segunda unção, plena unção. Penso que este seja um problema que aflija a muitos cristãos que, como eu, pensam estar salvos.

Após um primeiro encontro com Jesus, um cristão pode continuar, ainda, com a mente desorganizada e, por isso, não enxergando os homens na dimensão certa, não enxerga, ainda, com a ótica do amor do Espírito de Deus e confunde homens com árvores.

Dons maiores, como o amor incondicional, só podem vir num reencontro cotidiano com Jesus. Por isso ele nos diz: “ … Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e siga-me.” Lc 9:23b.

Com respeito a esse texto acima, encontramos alguns que se apegam ao “negar-se a si mesmo”, outros em “tomar a cruz” e nisso, todos têm a sua visão, tão somente, parcialmente restaurada. Mas é somente no “cada dia … siga-me” (em algumas traduções encontramos “siga-me continuamente” ou “diariamente … siga-me”), é que nós encontramos a cura perfeita, a moldagem dos nossos caráteres segundo os princípios de Deus.

Nisso consiste a segunda unção: “Mas quem perseverar até o fim, esse será salvo.” Mt 24:13 e também quando Jesus compara a si mesmo como a “videira verdadeira” e nós aos ramos ele diz: “Se vós permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós ...” Jo15:7a, mostra que é preciso permanecer ...

Ainda no texto da “parábola da videira e dos ramos”, Jesus prossegue dando-nos uma pista maravilhosa dessa mensagem: “ … para que o meu gozo permaneça em vós, e o vosso gozo seja completo.”, de modo que, seguindo continuamente, permanecendo em ligação com Ele, permanecendo em Seu gozo e perseverando até o fim teremos “o nosso gozo completo”, ou seja, a cura da nossa visão como um todo, não apenas dos olhos, que é apenas o sensor visual, mas também da mente toda, que é o órgão que processa a informação da visão, não nos fazendo mais confundidos entre árvores e homens.

Penso que pode haver no seio da Igreja outros que, assim como eu, ainda estão precisando de uma segunda unção: ter a mente efetivamente mudada, a mente completamente curada, os valores reformados e ajustados, tendo a poluição da minha mente, antes condicionada aos padrões do mundo, dos rancores, das cobiças e das lascívias, completamente posta para fora. Só um reencontro cotidiano com Jesus pode me dar isso: mais unção, continuamente.

Depois de completamente curado, Jesus despede aquele homem que agora vê plenamente para a sua casa e o instruí: “ … Mas não entres na aldeia.” Mc 8:26b. Então me pergunto: Qual o motivo de tal temeridade, por parte aquele que era, então, o homem mais poderoso da toda terra? Creio que Jesus não temeu por si próprio, mas por aquele a quem ele havia curado. Não obstante o fato de estar completamente curado, ele continuaria a ser, até o fim de sua vida, apenas um homem, susceptível a recaídas, mesmo depois de receber uma unção dobrada.

O texto não explicita, mas eu creio que poderia haver naquela aldeia, alguma coisa a qual aquele homem estivesse ligado e que o ligaria ao pecado. Jesus desejava, sinceramente, que ele permanecesse curado. Essa foi, portanto, uma sábia recomendação: “Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia.” I Co 10:12. Aprendemos com a narrativa da história da vida do rei Davi que, mesmo “um homem segundo o coração de Deus” pode cair, se não cuidar de se manter ligado, continuamente, a “videira verdadeira”.

Não sabemos ao certo o que sucedeu a vida daquele homem após Jesus despedi-lo, mas se ele foi sábio e grato, ele simplesmente obedeceu àquele que o havia curado plenamente e, assim, permaneceu: “Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, do que a gordura de carneiros”. I Sm 15:22b

Eu estou buscando por isso, unção cotidiana, e creio que a cada dia, Jesus está me aceitando e está me tocando uma vez mais, recriando a minha mente, refazendo os meus conceitos, removendo meus defeitos de caráter, continuamente. Quando um homem está curado apenas em parte, sua situação de risco pode ser ainda mais perigosa do que aquela de quando ele andava completamente doente.

Um cego não pode interpretar as palavras de um texto que ele não pode sequer ler mas, aquele a quem é dado passar a ver, este pode ler e interpretar mal. Todo aquele que não conhece a respeito das Escrituras, é como o cego e não enxerga as coisas pertinentes a Deus, mas aquele que conhece a verdade e não a pratica, o faz ainda pior, tornando-se como que um doente mental. O primeiro erra por não conhecer, o segundo por interpretar errado.

Um exemplo de má interpretação, fora da Bíblia, é sobre um pensamento bastante conhecido da escritora Clarice Lispector que diz: "Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro". Alguns usam isso para justificar a necessidade da manutenção de algumas das suas imperfeições sobre defeitos de caráter. Mas, eu meditei e orei pedindo orientação sobre isso e, por fim, me vi refazendo a leitura, num esforço de me acercar de um contexto mais amplo possível e, hoje, não creio que foi isso que a alma dessa autora quis expressar.

A questão é: Não sou eu, como com o meu próprio poder, quem corto os meus próprios defeitos, mas só o poder do verdadeiro Deus é que pode, de modo eficaz, fazê-lo. Eu nem mesmo saberia escolher, ao certo, qual defeito de caráter me deve ser eliminado e, sendo muitos, nem sei em qual ordem isso deve ser  realizado pois, " .. em parte conhecemos, e em parte profetizamos; mas, quando vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado." I Co 13:9b,10. De modo que, até mesmo, o que e o que não é defeito se torna difícil para mim julgar.

Eu devo manter a minha porta sempre aberta, para a eliminação de todos os meus defeitos, pois a perfeição virá num dia e hora que me é incerta. Eu profetizo que, mesmo que eu, pobre pecador, venha a tropeçar, pela misericórdia de Deus, nada me impedirá de eu continuar a seguir a Jesus continuamente, mesmo ferido, cambaleando, eu permanecerei e perseverarei, até o fim!

Obrigado por tudo desse amor, tanto assim, Senhor jesus!

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Este trabalho de André Luis Lenz, foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - CompartilhaIgual 3.0 Não Adaptada.
 
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